São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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Peça expõe lado cômico de Mike Leigh

"Os Penetras", sob direção do uruguaio Mauro Vedia, parte de base realista para criar "comédia nonsense"

Terceira montagem de Vedia de obras de Mike Leigh traz conflitos de classes com influências de Monty Pyton

Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Ana Andreatta e Marcello Airoldi em cena de "Os penetras", peça de Mike Leigh montada por Mauro Vedia

MARCOS GRINSPUM FERRAZ
DE SÃO PAULO

Na obra do inglês Mike Leigh, os conflitos de classes podem resultar em histórias de tons trágicos, como se vê em "Êxtase", mas também em situações cômicas.
É esta segunda ótica que domina "Os Penetras", terceira peça de Leigh a ser montada pelo diretor Mauro Babtista Vedia no Brasil. Antes, vieram "A Festa de Abigaiu" e "Êxtase". "As outras duas são extremamente realistas. Essa também parte de uma base realista, mas para criar uma uma comédia mais nonsense", explica Vedia.
O realismo teatral de Leigh -conhecido por trabalhos no cinema como "Segredos e Mentiras" e "Simplesmente Feliz"- baseia-se em uma visão crítica da sociedade de consumo para desenvolver personagens oriundos das classes médias e operárias.
No enredo de "Os Penetras", de 1988, um típico novo-rico inglês (interpretado por Kiko Vianello) volta de férias antecipadamente de uma estação de golfe e se depara com uma situação inesperada em sua casa, em uma noite na época das festas de fim de ano.
Além de um funcionário de sua empresa de dedetização (interpretado por Marcello Airoldi) ter invadido sua casa com a mulher, seu filho -com quem nutre sérios problemas afetivos- aparece junto à namorada para ter um encontro.
É entre todos esses personagens, que começam por se esconder nos armários após o susto do encontro (ou desencontro), que se desenvolvem os conflitos da peça, com toques de Monty Pyton, Peter Sellers e Buster Keaton, segundo Vedia.
Se a situação e as referências podem soar muito britânicas -ainda mais quando lembramos o contexto específico em que a obra foi escrita, durante o conflituoso fim da era Thatcher na Inglaterra-, isso não parece ser um incômodo para o diretor.
Mesmo com pequenas adaptações no texto, traduzido especialmente para a montagem, Vedia diz ver nele uma obra universal.
"Os personagens do Mike Leigh são muito complexos e têm uma humanidade muito grande. A questão é apenas fazer a ponte com uma outra cultura", diz.
Uruguaio, radicado no Brasil e com três montagens de peças do diretor inglês, ele completa: "Esse trânsito entre culturas é uma coisa que faz parte de mim".
Para quem pretende adentrar o universo de Leigh e Vedia, "A Festa de Abigaiu" tem reestreia, no dia 14, no Teatro Mube (tel. 2148-2905).

OS PENETRAS
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h e dom., às 19h
ONDE teatro Jaraguá (r. Martins Fontes, 71, tel. 3255-4380)
QUANTO de R$ 50 a R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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