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Paul Auster encena cárcere voluntário
Texto do escritor americano inspirado em Beckett ganha primeira montagem no país
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao falar do absurdo da
existência humana, Samuel
Beckett afundou num monte
de grama sua Winnie, protagonista de "Dias Felizes".
Com o mesmo propósito,
Paul Auster encarcerou um
casal em duas caixas em "Esconde-Esconde", peça rebatizada de "DentroFora" pelo
grupo gaúcho In.Co.Mo.De-Te - que faz sua estreia paulistana hoje.
Como "Dias Felizes", a
obra de Auster tem como essência a impossibilidade do
contato físico. Os personagens Homem e Mulher relacionam-se servindo-se apenas da sonoridade da palavra, num discurso vazio.
Auster indica nas rubricas
o uso de caixas de madeira
abertas da cintura para cima.
Na versão do In.Co.Mo.De-Te, realizada com rigor técnico, o encenador Carlos Ramiro Fensterseifer opta em fazê-las de acrílico.
Os personagens ficam expostos como se estivessem
em vitrines. "Enfatizamos a
preocupação da exposição e
aparência como algo primordial da condição humana
contemporânea", explica.
O diretor também transforma a plateia em mercadoria.
Inverte o jogo quando os personagens discutem sobre o
significado da palavra azul,
incidindo uma forte luz azulada sobre o espectador.
O tom da interpretação é
artificial. Com maquiagem
exagerada, a expressividade
dos protagonistas também é
desumanizada. A relação entre ficção e realidade é evidente: "Nos comunicamos
muitas vezes sem nos enxergarmos, assumindo posturas
artificiais na vida e na arte".
DENTROFORA
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista,
149, tel. 2168-1776)
QUANDO estreia hoje. De quin. a
dom., às 20h. Até 12/9
QUANTO Entrada franca
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
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