São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Jantar às cegas aguça os sentidos e provoca risos

Promovida por marca de uísque, experiência de comer sem ver é oferecida no Charlô

Corriqueira em Nova York, Paris e Berlim, evento acontece também em São Paulo; proposta é estimular mais o paladar e o olfato

Thiago Bernardes/Folha Imagem
A advogada Silmara Viotto Halla e o engenheiro Victor Halla


JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Esta é a parte mais bonita, é ou não é?", diz um garçom, ao ver uma das convidadas de um jantar às escuras levando à boca um garfo vazio. Na mesa ao lado, um grupo com sete pessoas vendadas ergue os braços e gargalha ao tentar fazer as taças se tocarem no ar. Eis que um barulho de vidro quebrando causa alvoroço. Não é trapalhada dos vizinhos de mesa. O ruído vem do fundo do salão.
"Será que os garçons também estão vendados?", brinca um participante. Não, não estão e, por isso, vêem personas ilustres tateando a comida e "cortando" a carne com o lado sem fio da faca. Adeus, etiqueta!
Tudo isso são cenas de um jantar às cegas ocorrido na última segunda, só para convidados, cuja experiência será repetida todas as sextas, a partir do dia 15 e até o dia 7/3, no Bistrô Charlô, em São Paulo (R$ 90, reservas pelo tel. 3087-4444).
Promovido pela marca de uísque Johnnie Walker Black Label, o jantar é precedido por uma degustação, já às escuras, da bebida e dos aromas dela.
Superdifundida em cidades como Nova York, Paris e Berlim, onde os restaurantes literalmente apagam as luzes do salão, a prática não é inédita aqui. Em 2005, o Degusta Rio organizou jantares às escuras em caráter experimental. Quem cuidava do serviço era uma brigada de garçons composta por deficientes visuais.
Nesta nova rodada, porém, o breu não é total. As luzes permanecem acesas. Cabe aos comensais tapar os olhos com a venda. E o serviço é feito pela equipe regular do restaurante.
"Há uma questão de logística. Se fosse totalmente às escuras, teríamos problemas com os garçons. Com os olhos vendados, vive-se a mesma experiência -a de perder o sentido da visão e apurar os outros", diz Marcello Ursini, gerente de marketing da Johnnie Walker Black Label. "Talvez nos próximos a luz fique mais baixa, o que vai dificultar se alguém tentar "roubar" no jogo."

Sorvete no queixo
O lado "ruim" de as luzes não serem apagadas é que os mais curiosos realmente roubam. Cedem à tentação de levantar a proteção para dar uma espiadinha, o que quebra um pouco o clima e a concentração. Mas há compensações. É divertido ver a lambança alheia. Gente sujando a toalha (não à toa, todos recebem um babadouro), levando o maior naco de carne à boca, em vez do que foi cortado, e acertando uma colherada de sorvete no queixo... da mulher.
Foi o que aconteceu com o engenheiro de tecnologia Victor Halla, 27. Ao tentar dar sobremesa na boca da advogada Silmara Viotto Halla, 29, errou o alvo. "Fizemos uma troca. Eu daria o meu uísque em troca do sorvete dele. Estava com vontade e continuei na vontade", ri a advogada. "Dá raiva não enxergar", se desculpa o marido.
Pelo menos nenhum dos dois trapaceou. Ficaram com os olhos cerrados do início ao fim, como fez o especialista em charutos Beto Ranieri. "Quis ter a sensação completa. Quando você não está enxergando, se preocupa mais em identificar o que é. Depois quero voltar, aí sem venda, para ver o que comi e, é claro, para rir dos outros."
Apesar de ter ficado incomodado com a falta de luz, o chef Emanoel Bassoleil respeitou as regras para "entrar no clima". "A maior dificuldade é usar os talheres. Roubei um pouco e coloquei o dedo no prato para me orientar. Mas consegui até brindar seguindo o som da voz de quem estava na mesa."


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