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CRÍTICA TEATRO
Espetáculo racionaliza o autismo nas falas
Apesar do brilho de atrizes, "A Máquina de Abraçar" decepciona por desfecho óbvio e esvaziamento do drama
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
A ciência e a arte exploram
o desconhecido. A primeira
precisa da prova enquanto
ao artista importa mais o mistério. "A Máquina de Abraçar" hesita entre a racionalidade e a metafísica antes de
sucumbir ao senso comum.
O texto, do espanhol José
Sanchis Sinisterra, especula
sobre o autismo, nome genérico para síndromes variadas
que desafiam os neurologistas. Seus portadores têm dificuldades em lidar com outros seres humanos.
Na peça, evoca-se a doença a partir do caso de Temple
Grandin, autista lendária,
que projetou um artefato capaz de dar-lhe o prazer de um
abraço sem a aflição do toque
de outra pessoa.
Sinisterra parte dessa referência para criar o eixo da
trama. Em um congresso,
uma psiquiatra apresenta
um caso raro de autismo.
A encenação de Malu Galli
converge com a vocação discursiva do autor, propondo
pontuações sonoras para gerar uma aura misteriosa nas
ações da palestrante.
A partir da aparição da
personagem autista, que
contracena de forma estranha com a médica e se torna
ela própria protagonista da
conferência em curso, a peça
ondula com alguma graça
entre a retórica racional da
cientista e a fala poética e desestabilizada da sua cliente.
Contudo, à medida que esse jogo vai findando, e a despeito do brilho das atrizes,
Marina Viana e Mariana Lima, as sugestões de transcendência que o drama alimentara se esvaziam.
Os ruídos são banalizados
e a expectativa de uma aproximação da vida anímica dos
autistas se frustra.
O desfecho decepciona e
desconcerta pela obviedade
e pelo fato de o dramaturgo e
seus personagens terem permanecido externos ao fenômeno, impermeáveis a ele.
A exposição de vários artistas plásticos, no ambiente
que circunda o espaço cênico, revela-se mais contundente no tratamento do tema
do que a dramaturgia.
Esta fica encapsulada em
falas que racionalizam o autismo, sem transcender o
anedótico e alcançar o encanto do ainda ignoto.
A MÁQUINA DE ABRAÇAR
QUANDO de hoje a sáb., às 21h30;
e dom., às 20h; até 6/6
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93,
tel. 3871-7700)
QUANTO de R$ 4 a R$ 16
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO regular
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