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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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São Paulo experimenta crescimento de noite diversificada e estendida por toda a semana que lembra os agitados anos 80

A festa nunca termina

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Os termos "Swingin" London" e "Nova York, a cidade que nunca dorme" estão definitivamente emprestados para São Paulo. Chacoalhada ao som da música eletrônica e agora por um gás roqueiro que há anos não se sentia, a cidade assiste ao nascer de bares e clubes e noites e festas aos montes, espanta-se ao ver lotar lugares de todas as tendências do pop e, melhor, não vê esses mesmos locais fecharem dois, três meses depois da badalação.
Tem para todo mundo, todas as noites, a semana inteira. O ânimo para a noite paulistana faz lembrar os agitados anos 80, mas mais ampliado e mais bem informado.
A música eletrônica há anos segue organizada e latente. E percebe-se aqui que o rock vive seus melhores dias quando, numa madrugada normal de segunda para terça-feira, recebe cerca de 600 pessoas em um clube, como aconteceu recentemente no D-Edge. A casa, tradicionalmente um reduto de eletrônica, tem sacudido a vizinhança às segundas, com rock.
"Tenho sentido essa vibração diferente quando discoteco pelos clubes", afirma o radialista Kid Vinil, conhecido agitador cultural da cidade, que atravessou os 80, 90 e até hoje quase sempre acumulando funções de jornalista, vocalista de banda, apresentador de programa de clipes e produtor.
"São Paulo tinha um vício ruim. Uma casa era inaugurada, badalada por uns dois meses, saía de moda e era esquecida, até fechar", Kid Vinil dá seu testemunho.
Outros lugares vêm experimentando superlotação e recordes.
O recorde de uma sexta-feira dessas de julho último mostrou que o bar Funhouse, na noite indie-rock Revolution, fez circular em seu espaço cerca de 340 pessoas. Perto dali, 380 baladeiros dançavam o gênero electro no Xingu, no centro, a mais festejada casa (mais ou menos) nova de São Paulo. Na Vila Olímpia, o som ouvido era tech-house, o clube era a Lov.e, e o público itinerante de 450 a 500.
"Pela experiência que a gente adquiriu nesses anos, dá para dizer que, quando as coisas estão ruins na vida real, é o momento em que a noite mais acontece. Porque as pessoas precisam extravasar de alguma maneira, precisam sublimar seus problemas", explica Erika Palomino, colunista da Folha.
Na citada noite de sexta-feira de julho, numa espécie de pré-inauguração do Unique Club, uma festa fechada provocava o balanço de cerca de 500 pessoas, ao som de electro, eletrônica e rock.
O Unique Club é o 150 Night Club (Maksoud Plaza) dos tempos modernos. No subsolo do hotel Unique, um clube que pode desdobrar sua capacidade de 400 a 4.000 lugares foi inaugurado recentemente para festas mensais com atrações internacionais.
"O que está acontecendo é que hoje em dia tudo está se juntando. Na mesma casa você tem uma noite de hip hop, uma noite electro, uma noite tecno, outra rock. Todos os segmentos atravessam uma boa fase", afirma Angelo Leuzzi, articulador do Unique Club e o responsável pela abertura do bem-sucedido clube Lov.e, além de, nos anos 80, ter sido dono do Rose Bom-Bom.
Assim como o hotel, outra marca extramúsica que aproveita o embalo da febre noturna paulistana é a grife A Mulher do Padre (Amp). No andar térreo de sua loja em Pinheiros, inaugurou há três meses um bar movido a DJs, geralmente de eletrônica, mas que também abre espaço para grooves da black music e até brasileira (às quartas). Tem nome de Ampgalaxy, vive abarrotado e é usado para o pré-clube, para "aquecer". Sempre cheio, o Ampgalaxy, o bar, se transforma em clube nas noites adentro das terças, sextas e sábados, quando abre sua pista subterrânea para agitos tecno.
Talvez o boom das casas e festas sonoras que balança São Paulo encontre uma razão temporal em dois pilares. O da onda electro, resgate modernizado do tecnopop dos anos 80 que encontra respaldo em duas tribos: a dos roqueiros e da eletrônica. E o do reerguimento do rock em si, desde que grupos novos liderados pelos Strokes revigoraram a cena a partir de 2000/2001.
Para um gênero que não faz dois anos comemorava quando conseguia reunir cem pessoas, em um fim de semana, no último sábado o rock levou considerável contingente a sete clubes diferentes -Funhouse, Trip Dancing Club, Torre do Doutor Zero, Inspiral, DJ Club, Matrix e Juke Joint. Todos com bandas tocando e DJs animando as pistas.
Pode acreditar: qualquer que seja o dia em que você estiver lendo textos como este, vai ter sempre um lugar à noite para ir dançar.



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