ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Sentada na plateia, depois do intervalo, ela parecia ainda mais nova, quase uma adolescente, sorrindo muito e agradecendo os cumprimentos. Tocando, não tinha nada de adolescente, a não ser que se use essa palavra para homenagear a gana e os arroubos, a alma sonhadora e a fome de música que Anna Vinnitskaya parecia menos saciar do que renovar a cada trecho do "Concerto nº 1", para piano e orquestra, de Tchaikovsky (1840-93).
Vencedora em 2007 do importante concurso Rainha Elizabeth de Bruxelas, com uma carreira que já inclui apresentações no Festival de Verbier (Suíça) e concertos mundo afora, da China ao Líbano, do Japão à Noruega, Vinnitskaya ("Vinníts-kaya") tem duas qualidades que chamam a atenção em especial: o som volumoso, com fortíssimos espetaculares; e um domínio calmo do tempo, a capacidade de ficar onde está na música, sem afobação.
Some-se a isso a facilidade para os arpejos e escalas e para as virtuosísticas passagens em oitavas do "Concerto". Às vezes, ela fecha os olhos, ou balança a cabeça para o lado, com o cabelão ruivo nas costas. Depois fita o teclado com atenção total e ataca a música com o prazer físico de uma grande atleta se levando até onde pode. Não acertou 100% das notas, mas não era uma olimpíada e ninguém leva isso em conta com arte desse nível.

OSB
Já da Orquestra Sinfônica Brasileira, regida por Roberto Minczuk, não seria justo com o crítico reclamar de ele apontar imprecisões e problemas da orquestra. Não foi uma noite feliz para o conjunto, pelo qual todo mundo está torcendo.
É verdade que as coisas melhoraram na segunda parte, com a Sinfonia "Escocesa" de Mendelssohn (1809-47). Mas Minczuk parecia lutar para tirar música da orquestra; e o resultado não guardava muito daquele estado de fantasia, de suspensão leve do mundo, que faz entender o amor que se tem por essa música. As obras da Cidade da Música estão complicadas. A orquestra também está em obras. Tomara que fiquem prontas logo.