São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010

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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

CRÍTICA DRAMA

Beauvois exagera na descrição de monges

Filme, que tenta vaga no Oscar, acompanha um grupo de missionários em aldeia na Argélia


AS MISSAS E SESSÕES DE CANTOCHÃO OCUPAM UMA PARTE TÃO CONSIDERÁVEL DO FILME QUE NOS FAZEM ESQUECER SEUS MÉRITOS


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A história de "Homens e Deuses" não começa hoje, nem em 1996, quando se deu a aventura dos missionários franceses narrada no filme de Xavier Beauvois.
Trata-se de um grupo de monges dedicado a cuidar de habitantes pobres de uma aldeia na Argélia.
As condições políticas são delicadas no local e, apesar de suas práticas serem notoriamente pacifistas, o convento onde vivem começa a ser cada vez mais ameaçado por guerrilheiros fundamentalistas muçulmanos. Se a história começa antes é, em grande parte, devido à sólida proximidade existente entre o catolicismo francês e o cinema.
Não me parece o caso, porém, de alimentar pelo filme de Beauvois o mesmo entusiasmo que por um "Os Anjos do Pecado", "A Paixão de Joana d'Arc" ou "Minha Noite com Ela", entre outros -isso tudo apesar de ter representado a França no último Festival de Cannes, apesar do sucesso em seu próprio país e apesar da indicação para o próximo Oscar.
E apesar, admita-se, de seus méritos, dos quais a notável direção de atores não é o menor (Lambert Wilson e Michael Lonsdale destacam-se no elenco).
Mas o cineasta faz, também, um filme à altura de seu título. Pois é de um grupo de homens que se entrega aos outros e faz dessa dedicação o centro e a razão de suas existências que se trata.
Tanto é que, quando começam as ameaças terroristas na região, eles dispensam a proteção do Exército: não querem ser protegidos pelo governo corrupto.
A principal virtude do longa, no entanto, seu vínculo com certa elevação espiritual que situaria a vida desses homens num plano superior ao nosso, esbarra num descritivismo francamente exagerado do que seja a vida, a vocação e mesmo a dedicação desses monges.
Aceitemos a respeitável tradição de evitar as facilidades dramáticas tão ao gosto do cinema comercial, em favor da exibição de um modo de vida e de ser.
Mas Beauvois exagera um tanto: as missas e sessões de cantochão ocupam uma parte tão considerável do filme que nos fazem por vezes esquecer seus méritos. Quem as admirar, no entanto, poderá apreciar este filme talvez melhor do que eu, no entanto um fã renitente das catoliquices radicais de Robert Bresson e menos radicais de Eric Rohmer.

HOMENS E DEUSES

DIREÇÃO Xavier Beauvois
QUANDO hoje, às 21h50, no Unibanco Arteplex; e amanhã, às 22h, no Espaço Unibanco Pompeia
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO regular


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