São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

CRÍTICA DRAMA

"Aprendiz de Alfaiate" filma vidas miúdas com paixão e precisão

Festival reapresenta o primeiro filme dirigido pelo ator-fetiche Louis Garrel, com a deliciosa Léa Seydoux

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Talvez a média metragem seja a duração ideal dos filmes que pretendem falar de nossa época. Os curtas são pequenos demais para abarcar o turbilhão da vida atual, mas é um desperdício de tempo narrar em longas nossas existências miúdas, indecisas e sem grandeza. Por isso 45 minutos bastaram para o ator e diretor Louis Garrel realizar uma preciosidade do cinema francês recente, "Aprendiz de Alfaiate" (Le Petit Tailleur).
O título não é arbitrário, nem a duração. Tudo no filme diz respeito a seres e situações que não conseguem ser "grandes", maiores e maduros: a jovem atriz de uma "tristeza indefinida"; o pequeno alfaiate cuja vida é um "rascunho" da "vida verdadeira"; e o amor dos dois, que, afinal, não se realiza -um tanto por descuido, um tanto por incerteza.
Não há mais certezas. Ou seja, não há mais paixões, como as que fizeram a vida do velho alfaiate Albert, judeu, comunista e "homem verdadeiro": na juventude, a paixão política e a luta na Resistência contra nazistas; depois, a confiança na dignidade do trabalho e a construção dedicada do ateliê.
Marie-Julie (Léa Seydoux, deliciosa!) é uma atriz que não quer mais atuar, mas não sabe o que fará depois nem com que namorado ficar.
Arthur (Arthur Igual) é o aprendiz de alfaiate que vê seu trabalho como coisa inferior, sonha entrar para a alta costura, mas se descobre "um falsário, um nada".
São vidas pequenas, mas comoventes, porque são as de nosso tempo. Num mundo assim, um ato imprevisto de amor tem a força de um gesto épico, como a decisão de Arthur de tirar as medidas da namorada, enquanto ela dorme, a fim de presenteá-la com um vestido -é uma das belas cenas do filme.
Garrel registra tudo em um "tom menor", sem ênfases, com uma câmera de olhar preciso e muito ágil, colada no rosto dos personagens. O preto e branco não é mera figura de estilo: evita redundâncias visuais e concentra a nossa atenção nos corpos e nos sentimentos.
Este pequeno grande filme é o primeiro dirigido por Garrel, 27, o ator de "Os Sonhadores". Já se falou que ele escora sua estética nas experiências da nouvelle vague e do ateliê de cinema de seu pai, o rebelde diretor Philippe Garrel. De fato.
E tanto melhor assim. Se é para começar por algum lugar, melhor que seja seguindo os passos de quem adotou o cinema como expressão apaixonada da vida e uma manifestação de liberdade.

APRENDIZ DE ALFAIATE

DIREÇÃO Louis Garrel
QUANDO hoje, às 22h50, no Unibanco Arteplex 6; e amanhã, às 18h, no Cine Olido
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo


Texto Anterior: Beauvois exagera na descrição de monges
Próximo Texto: Crítica/Drama: "Um Homem que Grita" tira sua força do sentido político
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.