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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
CRÍTICA DRAMA
"Aprendiz de Alfaiate" filma vidas miúdas com paixão e precisão
Festival reapresenta o primeiro filme dirigido pelo ator-fetiche Louis Garrel, com a deliciosa Léa Seydoux
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
Talvez a média metragem
seja a duração ideal dos filmes que pretendem falar de
nossa época. Os curtas são
pequenos demais para abarcar o turbilhão da vida atual,
mas é um desperdício de
tempo narrar em longas nossas existências miúdas, indecisas e sem grandeza.
Por isso 45 minutos bastaram para o ator e diretor
Louis Garrel realizar uma
preciosidade do cinema francês recente, "Aprendiz de Alfaiate" (Le Petit Tailleur).
O título não é arbitrário,
nem a duração. Tudo no filme diz respeito a seres e situações que não conseguem
ser "grandes", maiores e maduros: a jovem atriz de uma
"tristeza indefinida"; o pequeno alfaiate cuja vida é um
"rascunho" da "vida verdadeira"; e o amor dos dois,
que, afinal, não se realiza
-um tanto por descuido, um
tanto por incerteza.
Não há mais certezas. Ou
seja, não há mais paixões,
como as que fizeram a vida
do velho alfaiate Albert, judeu, comunista e "homem
verdadeiro": na juventude, a
paixão política e a luta na Resistência contra nazistas; depois, a confiança na dignidade do trabalho e a construção
dedicada do ateliê.
Marie-Julie (Léa Seydoux,
deliciosa!) é uma atriz que
não quer mais atuar, mas não
sabe o que fará depois nem
com que namorado ficar.
Arthur (Arthur Igual) é o
aprendiz de alfaiate que vê
seu trabalho como coisa inferior, sonha entrar para a alta
costura, mas se descobre
"um falsário, um nada".
São vidas pequenas, mas
comoventes, porque são as
de nosso tempo. Num mundo assim, um ato imprevisto
de amor tem a força de um
gesto épico, como a decisão
de Arthur de tirar as medidas
da namorada, enquanto ela
dorme, a fim de presenteá-la
com um vestido -é uma das
belas cenas do filme.
Garrel registra tudo em um
"tom menor", sem ênfases,
com uma câmera de olhar
preciso e muito ágil, colada
no rosto dos personagens.
O preto e branco não é mera figura de estilo: evita redundâncias visuais e concentra a nossa atenção nos
corpos e nos sentimentos.
Este pequeno grande filme
é o primeiro dirigido por Garrel, 27, o ator de "Os Sonhadores". Já se falou que ele escora sua estética nas experiências da nouvelle vague e
do ateliê de cinema de seu
pai, o rebelde diretor Philippe Garrel. De fato.
E tanto melhor assim. Se é
para começar por algum lugar, melhor que seja seguindo os passos de quem adotou
o cinema como expressão
apaixonada da vida e uma
manifestação de liberdade.
APRENDIZ DE ALFAIATE
DIREÇÃO Louis Garrel
QUANDO hoje, às 22h50, no
Unibanco Arteplex 6; e amanhã,
às 18h, no Cine Olido
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo
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