São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2000

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MEMÓRIA
Espaço funciona contíguo ao saguão do teatro

Nick Bar resgata nome e estilo do vizinho do TBC nos anos 50 e 60

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No 311 da rua Major Diogo, vizinho ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), o Nick Bar foi, entre 49 e 64, uma espécie de extensão do camarim para artistas, intelectuais e público em geral.
Um pouco do glamour daquela época é resgatado no bar de mesmo nome, inaugurado oficialmente na última terça-feira (abriu informalmente em setembro) e instalado dentro do TBC, numa área contígua ao saguão.
Não se trata de iniciativa movida apenas por nostalgia. "Não estamos reproduzindo o bar do passado e tampouco abrindo um bar moderninho. Queremos, sim, funcionar como um chamariz, não só para os espectadores que vão ao teatro, mas para aqueles que apreciam uma boa comida e um bom vinho", afirma um dos sócios do Nick Bar redivivo, o artista plástico Clibas Chasseraux Diniz, 25. O projeto, diz ele, custou cerca de R$ 20 mil.
Se a nostalgia não corresponde integralmente ao conceito, ela é mais assumida na concepção estética. O arquiteto e cenógrafo J.C. Serroni montou um ambiente em estilo art déco (anos 20 e 30), com tons amarelo-torrado nas paredes e alaranjado no teto. A capacidade é para 50 pessoas.
A imagem da atriz Cacilda Becker (1921-69), que passou boa parte da sua carreira nos palcos do TBC, estampa a capa do cardápio. Entre as opções, saladas, tábuas de queijos ou frios, lanches, coquetéis e vinhos.
O perfil é distinto do Nick Bar original, que se aproximava mais de um restaurante. "Era ali que a gente fazia as nossas refeições leves, antes ou depois das sessões. Havia pelo menos dez apresentações por semana, incluindo as matinês", afirma a atriz Cleyde Yáconis, 77.
Como a irmã, Cacilda, ela pertence à geração que projetou o nome do palco da Bela Vista na história do teatro nacional. "O Nick era um ambiente pequeno, harmonioso. À noite, os artistas se reuniam no bar para ouvir o piano de Carlos Vergueiro, por exemplo", diz Cleyde.
Inezita Barroso, apresentadora do "Viola Minha Viola" (TV Cultura), também costumava dar uma canja por lá.
Quem comprava ingresso para uma das peças em cartaz no TBC tinha direito a um jantar. Entre os fregueses, figuravam ainda escritores, como Jorge Amado e Érico Veríssimo.
O dono do bar original era o boêmio Joe Kantor, que se apropriou do título da montagem "Nick Bar... Álcool, Brinquedos e Ambições", texto do americano William Saroyan (1908-81), primeira encenação profissional do TBC (49), sob direção do italiano Adolfo Celi.
Aliás, o enunciado da fachada era Joe's Nick Bar, referência ao proprietário, como constava na embalagem de uma caixa de fósforo, então valioso recurso de propaganda nas rodas de bar.
Como o TBC, o Nick Bar fica na rua Major Diogo, 315, tel. 3115-4622. Funciona de terça a domingo, das 14h "ao último cliente".



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