JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O violinista Vadim Repin recebeu um dos prêmios mais prestigiosos para seu instrumento, o Rainha Elizabeth. O pianista Nikolai Lugansky também entrou no circuito dos recitalistas a partir de um grande prêmio, o Tchaikóvski. Ambos são russos, estão na faixa dos 30 anos e se apresentam juntos, hoje e amanhã, na temporada do Cultura Artística.
No programa, peças de Bela Bartók, Franz Schubert, Cesar Franck e do estoniano Arvo Pärt.
Repin já havia se apresentado em São Paulo em 1999. Deixou uma impressão absoluta, com a sonoridade elegante e "cheia" de seu Stradivarius de 1708.
Disse desta vez, em entrevista à Folha, que a mensagem musical de um violinista consiste em manter uma fidelidade incondicional a compositores como Brahms ou Schubert. A música que escreveram "permanece genial ao longo de muitas gerações".
Os dois coincidem em relativizar a noção de "escola russa" para seus respectivos instrumentos.
"Há uma tradição, e não propriamente uma escola. A linguagem da música é universal e diz respeito ao nível técnico e à habilidade para interpretar determinado compositor", diz Repin.
Lugansky afirma que a peça de Schubert no programa da turnê -a "Fantasia em Dó Maior para Violino e Piano"- "é uma das mais difíceis que já foram escritas" para os dois instrumentos.
Quanto a Bartók, que também estará no programa, os dois músicos não o enxergam como um quase contemporâneo do século 20. "Já é um clássico", diz Repin.
Ele diz estar hoje em dia interessado no compositor britânico Edward Elgar, que até há algumas décadas "era bem mais apreciado pelo público do que pelos instrumentistas".
Repin também fala de seu Stradivarius. "Todo grande instrumento é único, singular." Falar em qualidade sonora seria inútil e redundante. O que interessa, em seu violino, é "a possibilidade de juntar no mesmo plano musical o som que se produz e o som que se havia sido previamente imaginado". De certo modo, é a materialização de uma fantasia musical.