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Crítica/"Lanchonete Olympia"
Diretor de videoclipes históricos faz filme sem relevo sobre imigrante
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O que pode fazer um pioneiro diretor de videoclipes quando se entrega a uma história de pobreza e
abandono, sem astros, sem glamour e sem música? O resultado pode ser visto em "Lanchonete Olympia", uma aventura
do veterano Steve Barron no
universo temático e estético do
cinema independente norte-americano.
Homem por trás de clipes
históricos de Michael Jackson
("Billie Jean"), A-Ha ("Take on
Me", "Cry Wolf") e Dire Straits
("Money for Nothing") e de ficções despersonalizadas ("As
Tartarujas Ninja", "Cônicos e
Cômicos"), Barron parece se
dedicar a um projeto pessoal
em "Lanchonete Olympia".
Para isso opta pelo completo
despojamento no tema (a vida
restrita de um imigrante equatoriano numa região pauperizada do Queens, periferia de
Nova York, metáfora da distância de Manhattan e do sonho
americano) e na imagem (os cenários predominantes são uma
cozinha de lanchonete e um
quarto de cortiço).
A história gira em torno de
Jorge, um imigrante equatoriano que trabalha como lavador
de pratos numa lanchonete.
Em torno dele giram Amy, imigrante chinesa mais bem integrada socialmente, Jerry e Terri, empregados do mesmo lugar, e Rick, o chefe bonachão.
Sem conseguir se comunicar
minimamente em inglês, Jorge
se encerra num universo mental em que projeta fantasmas
que o filme resolve visualmente
na forma de grafismos, animações inseridas na realidade desencantada em que sobrevive o
imigrante. O recurso visa projetar um "realismo mágico" de
acordo com a interpretação que
os americanos fazem desse clichê estético de seus vizinhos do
andar de baixo.
Como filmar esse laconismo,
parece se perguntar o diretor?
Trata-se de uma proposta interessante para um artista que
esteve, até então, submerso sob
a estética do excesso. A boa intenção de Barron, porém, tropeça no limite de suas qualidades e o resultado é um filme
sem relevo, em que tanto os
personagens quanto aquilo que
pretende significar se encontram reduzidos a quase nada.
Avaliação: ruim
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