São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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ARTES VISUAIS

Espaço em Pinheiros é inaugurado com a instalação "Vereda"

Sítio abriga mata criada por Lia Chaia

TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA

Uma minirreforma agrária acontece no campo da arte a partir de hoje com a inauguração do espaço Sítio, em Pinheiros, dedicado à produção não-comercial de jovens artistas. Lia Chaia, 25, planta a primeira semente do projeto com a instalação "Vereda".
A área ocupada não é exatamente um latifúndio, são 50 metros quadrados, mas a proposta ultrapassa limites geográficos. Além de abrigar "site specifics" (obras feitas sob medida para um lugar) de seis artistas por ano, o projeto prevê um catálogo com textos de jovens críticos e, futuramente, bolsas de estudo e intercâmbios entre ateliês no Brasil e no exterior.
"A proposta é incentivar a produção sem fim comercial e contribuir com a formação de críticos e curadores. Esse é um embrião, queremos fazer uma coisa maior, expandir para outros espaços, outros sítios", diz Ricardo Ribenboim, ex-diretor do Paço das Artes, em 1993, e do Itaú Cultural, entre 96 e 2002, e sócio da produtora cultural Base 7, que criou e mantém o projeto.
A inspiração veio de uma pequena galeria de Paris, a Pièce Unique, que exibe apenas um único trabalho feito especialmente para o local por um artista contemporâneo.
No primeiro ano, o projeto deve acolher artistas que fazem parte do elenco da galeria Vermelho, o próximo deve ser Fabiano Marques, 33, um dos brasileiros confirmados para a Bienal de São Paulo deste ano.
Para a estréia, o espaço -que fica na entrada do escritório da produtora, com pé-direito alto e boa iluminação natural- foi transformado numa "clareira" de mata.
A "Vereda" criada por Lia abre caminho para uma reflexão da percepção da natureza, sobretudo a da cidade. As paredes foram revestidas com trepadeiras, uma espécie de afresco, desenhado com cunha sobre uma camada de cimento que encobre três tons de verde. As tramas de hera revelam sutilmente as tonalidades.
Recém-chegada de Paris, onde esteve a convite da bolsa Citè des Arts, a artista evoca a simetria dos jardins europeus em cinco displays bidimensionais, cujos formatos remetem àquelas plantas cuidadosamente podadas, mas que estampam fotografias de diferentes ângulos de mata atlântica.
"Os objetos trazem uma ruptura da paisagem, sobrepondo imagens uma em cima das outras. É, ao mesmo tempo, a fragmentação da natureza e a geometria, que coloca tudo no mesmo plano", diz.
Uma instalação sonora que mescla sons da floresta amazônica com os barulhos da cidade completa o trabalho. "A idéia de vereda é a sensação, estar envolvido num ambiente que possui o cheiro e a textura do cimento", afirma Lia.


SÍTIO - INAUGURAÇÃO COM "VEREDA", DE LIA CHAIA. Onde: r. Cônego Eugênio Leite, 639, Pinheiros, tel. 3088-4550. Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a sex.: das 10h às 18h. Até 25/6. Quanto: entrada franca.


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