São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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"NICELAND"

Diretor Fridrik Thor Fridriksson aborda procura pelo sentido da vida

Islandês busca terra da bondade

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Crianças e filósofos já o procuraram em vão, mas, desta vez, ele foi visto batendo pernas em uma gélida paisagem. Qual o sentido da vida? A pergunta que move a humanidade também intriga o cineasta islandês Fridrik Thor Fridriksson, 51. Fascinado pelo tema e pela sua eterna busca, fez um filme que mantém estreita relação com o imaginário de seu país de origem, Islândia, a "terra do gelo".
Ou melhor, "Niceland", "lugar onde as pessoas são muito mais bondosas", como diz em entrevista à Folha. O filme tem última exibição hoje na Mostra de Cinema.
No longa-metragem, falado em inglês, o espectador não verá as paisagens de neve que fazem parte de qualquer cartão-postal da pequena ilha -menor que o Estado de São Paulo. No entanto, verá nas entrelinhas um clima excêntrico, sempre presente nos clichês que povoam os olhares estrangeiros sobre sua cultura.
Em "Niceland", Fridriksson, mais conhecido por "Filhos da Natureza" (indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 1992), conta a história de Jed e Chloe, casal de adolescentes com problemas mentais. Quando o gato de estimação da garota morre, ela não vê mais razão para viver. Para salvá-la, o rapaz tentará resolver o singelo mistério, perguntando a quem passar pela sua frente qual é o sentido da vida.
"Não estou dando respostas mágicas; meu filme é apenas sobre essa busca", explica o diretor. "Mas acredito que todos nós estamos cada dia mais perto da resposta. Para mim, questionar e continuar vivendo da melhor forma possível é o próprio sentido."
Nesse espírito, "Niceland" é povoado por marginalizados da sociedade. Quem se tornará uma espécie de guru de Jed é Max, um negociante que mora em um ferro-velho; os pais do garoto não trocam uma palavra e preferem gastar o tempo em frente à televisão; um de seus amigos é obcecado pela previsão do tempo.
"Gosto de retratar essa parcela excluída da sociedade islandesa em meus filmes", afirma Fridriksson. "São os deficientes mentais e físicos, os idosos que estão confinados em hospitais. Essas pessoas não pertencem realmente à sociedade porque não produzem dinheiro, então são mantidas afastadas. Os "outsiders" possuem histórias de vida muito mais interessantes do que os "normais"."
Muito do título "maior cineasta islandês" deve-se ao fato de Fridriksson ter fundado, em 1987, a Icelandic Film Corporation. "Produzimos a metade dos filmes islandeses, e isso é muito importante para um país pequeno como o nosso, com uma população que é quase o equivalente a um bairro de São Paulo [o Estado tem mais de 36 milhões de habitantes; o país, 300 mil -dados de 2002]."
Mas, para os islandeses, Fridriksson também é o "culpado" por "Rock in Reykjavik" (1982), documentário sobre a cena punk/rock local, marco na cultura da região. O diretor diz que ainda mantém interesse em ouvir novos artistas. Em "Niceland", por exemplo, a trilha sonora fica a cargo de Mugison. Na terra do gelo, Fridriksson vai tentando ser apenas mais uma pessoa bondosa.


NICELAND. Direção: Fridrik Thor Fridriksson. Produção: Dinamarca/ Islândia/Alemanha/Reino Unido, 2004. Com: Martin Compston, Gary Lewis. Quando: hoje, às 20h30, no Frei Caneca Unibanco Arteplex 2.


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