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"NICELAND"
Diretor Fridrik Thor Fridriksson aborda procura pelo sentido da vida
Islandês busca terra da bondade
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Crianças e filósofos já o procuraram em vão, mas, desta vez, ele
foi visto batendo pernas em uma
gélida paisagem. Qual o sentido
da vida? A pergunta que move a
humanidade também intriga o cineasta islandês Fridrik Thor Fridriksson, 51. Fascinado pelo tema
e pela sua eterna busca, fez um filme que mantém estreita relação
com o imaginário de seu país de
origem, Islândia, a "terra do gelo".
Ou melhor, "Niceland", "lugar
onde as pessoas são muito mais
bondosas", como diz em entrevista à Folha. O filme tem última exibição hoje na Mostra de Cinema.
No longa-metragem, falado em
inglês, o espectador não verá as
paisagens de neve que fazem parte de qualquer cartão-postal da
pequena ilha -menor que o Estado de São Paulo. No entanto, verá nas entrelinhas um clima excêntrico, sempre presente nos clichês que povoam os olhares estrangeiros sobre sua cultura.
Em "Niceland", Fridriksson,
mais conhecido por "Filhos da
Natureza" (indicado ao Oscar de
melhor filme estrangeiro de
1992), conta a história de Jed e
Chloe, casal de adolescentes com
problemas mentais. Quando o gato de estimação da garota morre,
ela não vê mais razão para viver.
Para salvá-la, o rapaz tentará resolver o singelo mistério, perguntando a quem passar pela sua
frente qual é o sentido da vida.
"Não estou dando respostas
mágicas; meu filme é apenas sobre essa busca", explica o diretor.
"Mas acredito que todos nós estamos cada dia mais perto da resposta. Para mim, questionar e
continuar vivendo da melhor forma possível é o próprio sentido."
Nesse espírito, "Niceland" é povoado por marginalizados da sociedade. Quem se tornará uma espécie de guru de Jed é Max, um
negociante que mora em um ferro-velho; os pais do garoto não
trocam uma palavra e preferem
gastar o tempo em frente à televisão; um de seus amigos é obcecado pela previsão do tempo.
"Gosto de retratar essa parcela
excluída da sociedade islandesa
em meus filmes", afirma Fridriksson. "São os deficientes mentais e
físicos, os idosos que estão confinados em hospitais. Essas pessoas
não pertencem realmente à sociedade porque não produzem dinheiro, então são mantidas afastadas. Os "outsiders" possuem histórias de vida muito mais interessantes do que os "normais"."
Muito do título "maior cineasta
islandês" deve-se ao fato de Fridriksson ter fundado, em 1987, a
Icelandic Film Corporation. "Produzimos a metade dos filmes islandeses, e isso é muito importante para um país pequeno como o
nosso, com uma população que é
quase o equivalente a um bairro
de São Paulo [o Estado tem mais
de 36 milhões de habitantes; o
país, 300 mil -dados de 2002]."
Mas, para os islandeses, Fridriksson também é o "culpado"
por "Rock in Reykjavik" (1982),
documentário sobre a cena
punk/rock local, marco na cultura
da região. O diretor diz que ainda
mantém interesse em ouvir novos
artistas. Em "Niceland", por
exemplo, a trilha sonora fica a cargo de Mugison. Na terra do gelo,
Fridriksson vai tentando ser apenas mais uma pessoa bondosa.
NICELAND. Direção: Fridrik Thor
Fridriksson. Produção: Dinamarca/
Islândia/Alemanha/Reino Unido, 2004.
Com: Martin Compston, Gary Lewis.
Quando: hoje, às 20h30, no Frei Caneca
Unibanco Arteplex 2.
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