São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009 |
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33ª MOSTRA DE SP Crítica/"Soul Kitchen" Alemão abandona o drama e faz ótima comédia rasgada
"Soul Kitchen", de Fatih Akin, dialoga com o pastelão em momentos precisos
RICARDO CALIL COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Na TV, há o rude Gordon Ramsay, de "Hell's Kitchen". Na literatura, o aloprado Anthony Bourdain, de "Cozinha Confidencial". Mas, no cinema, a culinária ainda é um reduto da convenção, do erotismo pudico e do sentimentalismo assumido; em resumo, do clichê. Isso pode ser visto em alguns dos filmes mais estimados sobre o tema, a exemplo de "Como Água para Chocolate" (1992), "Chocolate" (2000) e "Simplesmente Marta" (2002). Pela lógica cinematográfica, até um rato precisa ser fofo para virar chef, como nos mostrou a Pixar em "Ratatouille" (2007). "Soul Kitchen", do cineasta alemão de ascendência turca Fatih Akin, é um bem-vindo contraponto a essa tendência, um filme sobre o universo gastronômico cheio de suingue e testosterona, estrelado por homens feios e malvados e mulheres belas e fortes. O protagonista é o grego Zinos (Adam Bousdoukos), proprietário de um pé-sujo chamado Soul Kitchen, localizado em uma região decadente de Hamburgo. Ele é um péssimo cozinheiro, sabe só fritar congelados e, ainda assim, atrai uma clientela pequena, mas fiel. Zinos está em uma fase negra: a namorada decide morar em Xangai; o irmão presidiário pede um emprego de fachada no restaurante para poder entrar em regime semiaberto; um antigo amigo que virou corretor tenta sabotar o restaurante para comprá-lo por um preço baixo; e ele tem um problema nas costas que o impede de cozinhar. A solução é contratar Shayn (Birol Ünel), chef talentoso, mas casca-grossa, que faria Ramsay e Bourdain parecerem lordes. Quando tudo começa a dar certo, surgem problemas ainda maiores que ameaçam o sucesso do restaurante. Conhecido por dramas pesados sobre choques culturais, como "Contra a Parede" (2004) e "Do Outro Lado" (2008), Akin mostra uma visão apaziguada sobre a globalização na Alemanha, com um convívio fraterno entre gregos e locais. E, sobretudo, o cineasta revela um talento insuspeito para a comédia. Não é uma mão leve, de humor sofisticado. Mas ele tem timing cômico e o despudor de assumir o pastelão. O resultado é mais incomum do que o desejável: uma comédia alemã que faz rir. No final das contas, a moral de "Soul Kitchen" não deixa de ser parecida com a de outros filmes sobre a gastronomia. Mais uma vez, trata-se de fazer o elogio do poder gregário e do valor cultural da culinária. Mudam, porém, as estratégias: se Akin quer mostrar que a comida pode ser afrodisíaca, ele arma uma suruba épica no restaurante. Não, "Soul Kitchen" não é um filme fino. E isso é ótimo. SOUL KITCHEN Quando: hoje, às 14h50, no Unibanco Arteplex 3 Avaliação: ótimo Classificação: 14 anos Próximo Texto: Francês diz buscar as "más formas de amor" Índice |
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