São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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Artista esconde a dor sob camada pop

Vídeos do alemão Kota Ezawa são exibidos em mostra na galeria Rhys Mendes a partir de amanhã

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Lennon, Sontag, Beuys. No vídeo do artista alemão Kota Ezawa, exibido a partir de amanhã na galeria Rhys Mendes, esses sobrenomes aparecem como grifes. São palavras de ordem sintéticas, que carregam em poucos fonemas o que imagens vão achatar na sequência.
Ezawa junta trechos da defesa que John Lennon faz de seus ideais de paz, sua cama rodeada por jornalistas na Amsterdã de 1969, o fragmento de um discurso da ensaísta Susan Sontag, sobre a fotografia como instrumento de "despertar moral", e Joseph Beuys, chapéu de feltro na cabeça, falando sobre seu conceito de "escultura social".
Cobre o som original com uma animação achatada, de cores sólidas. Anula a profundidade, cala sombras e contrastes na paleta estridente do cartum e transforma os personagens em simulacros de si mesmos.
Por inconfundíveis que sejam as vozes de Lennon e Sontag, o sotaque de Beuys, Ezawa instaura a dúvida. Freia a percepção para aguçar justo ela mesma. Num stop motion frígido, acaba exaltando o calor da fala. Sob o anonimato pop, que lembra de "South Park" a comerciais de iPod, faz explodir a histeria do contexto específico.
Serve de prelúdio e chave de leitura a "The Simpson Verdict". Se "Lennon Sontag Beuys" visita os personagens que mais pensaram a arte e seu papel de retratar e aliviar o sofrimento humano, o resto da obra de Ezawa esquadrinha e escancara o sofrimento em si.
"The Simpson Verdict", obra da coleção do MoMA exibida agora em São Paulo, mostra o momento em que o jogador de futebol OJ Simpson é absolvido da acusação de matar a mulher Nicole Simpson. O som do tribunal, as falas do juiz e dos jurados, é o mesmo. Mas só duas ou três linhas esboçam a expressão dos personagens. OJ, em versão cartum, ganha um estatismo macabro -seu sorriso chapado condena, como se anulasse a própria sentença.
Depois do vídeo em que revê os assassinatos dos presidentes Abraham Lincoln e John Kennedy, Ezawa mostra na obra sobre o julgamento de OJ Simpson sua compreensão precisa dos mecanismos da cultura pop. No rastro de Andy Warhol, este alemão radicado em San Francisco também desvela a dimensão letal da proliferação descontrolada de imagens.


KOTA EZAWA

Quando: abertura amanhã, às 19h30; ter. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 21/11
Onde: galeria Rhys Mendes (r. da Consolação, 3.368, tel. 2528-6331)
Quanto: grátis




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