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Artista esconde a dor sob camada pop
Vídeos do alemão Kota Ezawa são exibidos em mostra na galeria Rhys Mendes a partir de amanhã
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Lennon, Sontag, Beuys. No
vídeo do artista alemão Kota
Ezawa, exibido a partir de amanhã na galeria Rhys Mendes,
esses sobrenomes aparecem
como grifes. São palavras de ordem sintéticas, que carregam
em poucos fonemas o que imagens vão achatar na sequência.
Ezawa junta trechos da defesa que John Lennon faz de seus
ideais de paz, sua cama rodeada
por jornalistas na Amsterdã de
1969, o fragmento de um discurso da ensaísta Susan Sontag,
sobre a fotografia como instrumento de "despertar moral", e
Joseph Beuys, chapéu de feltro
na cabeça, falando sobre seu
conceito de "escultura social".
Cobre o som original com
uma animação achatada, de cores sólidas. Anula a profundidade, cala sombras e contrastes
na paleta estridente do cartum
e transforma os personagens
em simulacros de si mesmos.
Por inconfundíveis que sejam as vozes de Lennon e Sontag, o sotaque de Beuys, Ezawa
instaura a dúvida. Freia a percepção para aguçar justo ela
mesma. Num stop motion frígido, acaba exaltando o calor da
fala. Sob o anonimato pop, que
lembra de "South Park" a comerciais de iPod, faz explodir a
histeria do contexto específico.
Serve de prelúdio e chave de
leitura a "The Simpson Verdict". Se "Lennon Sontag
Beuys" visita os personagens
que mais pensaram a arte e seu
papel de retratar e aliviar o sofrimento humano, o resto da
obra de Ezawa esquadrinha e
escancara o sofrimento em si.
"The Simpson Verdict", obra
da coleção do MoMA exibida
agora em São Paulo, mostra o
momento em que o jogador de
futebol OJ Simpson é absolvido
da acusação de matar a mulher
Nicole Simpson. O som do tribunal, as falas do juiz e dos jurados, é o mesmo. Mas só duas
ou três linhas esboçam a expressão dos personagens. OJ,
em versão cartum, ganha um
estatismo macabro -seu sorriso chapado condena, como se
anulasse a própria sentença.
Depois do vídeo em que revê
os assassinatos dos presidentes
Abraham Lincoln e John Kennedy, Ezawa mostra na obra sobre o julgamento de OJ Simpson sua compreensão precisa
dos mecanismos da cultura
pop. No rastro de Andy Warhol,
este alemão radicado em San
Francisco também desvela a dimensão letal da proliferação
descontrolada de imagens.
KOTA EZAWA
Quando: abertura amanhã, às
19h30; ter. a sex., das 11h às 19h;
sáb., das 11h às 17h; até 21/11
Onde: galeria Rhys Mendes (r. da
Consolação, 3.368, tel. 2528-6331)
Quanto: grátis
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