PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

A bailarina e coreógrafa espanhola La Ribot, 40, está agora muito longe daqui, instalada em sua casa londrina. Hoje, no Itaú Cultural, entretanto, será possível apreciá-la dançando, de perto.
Pode parecer paradoxal. Trata-se, todavia, da videoinstalação "Despliegue", em que a artista substitui sua presença física pela projeção de 45 minutos de imagens de seu trabalho.
Antes, em 2000, ela esteve por aqui em carne e osso. Apresentou-se, então, em São Paulo e em Belo Horizonte, no FID (Festival Internacional de Dança).
A obra da vez, que integra o acervo do museu espanhol Artium Alava, é exibida na programação do "Interatividades", projeto que compreende mostras de vídeo, espetáculos de dança, debates, performances, net-art, oficinas, palestras -arsenal que serve à sondagem das experiências artísticas em tempos digitais. O evento se estende até o dia 15/12.
"Interessa-me muito a visão de "Despliegue" como algo "dançado". É uma videoinstalação como qualquer outra. Realizo todas as ações, os movimentos, porém seguimos falando de um vídeo, um suporte diferente do da ação ao vivo. Por ora, tenho interesse em trabalhar com o vídeo por sua capacidade testemunhal, mais do que por sua capacidade de ficção e de ruptura do tempo", afirma La Ribot, por e-mail, à Folha.
Sobre a ausência e a distância "geográfica" das apresentações, crê na independência entre produto e produtor. "Uma vez criada, essa obra existe em sua totalidade sem a minha presença física."
A espanhola concebeu um trabalho que perpassa os últimos dez anos de sua trajetória. Colheu fragmentos de ações, textos, músicas e objetos de criações antigas. Com esse material, construiu no chão uma espécie de quadro fracionado. Sobre ele, realizou seus movimentos improvisados, gravados por uma câmera no teto.
Outra câmera, manipulada por sua mão direita, foi utilizada na empreitada, que requereu equipe de seis pessoas.
"Despliegue" realiza a projeção de uma sequência dos improvisos no solo e das imagens captadas pela câmera na mão numa tela, em escala real, simultaneamente, numa sala "quase negra", transitável. Em janeiro de 2002, a instalação foi exibida na galeria de arte Soledad Lorenzo, em Madri.
O próximo trabalho de La Ribot se intitula "Panoramix" e deve ser apresentado em março do ano que vem, em Londres.