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Espetáculo resgata obra de Guarnieri
Com direção de Heron Coelho, apresentação intercala textos, fragmentos de peças e repertório políticos
Divulgação
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A atriz Georgette Fadel, que interpreta canções dos anos 60 e 70 com arranjos de Edu Lobo e Carlos Lyra no Sesc Pompeia
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a Lei da
Anistia, de 1979, motivou o diretor Heron Coelho a modificar
a apresentação de "Um Grito
Solto no Ar" uma semana antes
da estreia. Deu tempo, e o espetáculo em que Georgette Fadel
interpreta canções de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) entra em cartaz às quintas no Sesc Pompeia. Mais dramático e abrasivo.
As mudanças funcionam como uma resposta à decisão do
STF, que mantém o perdão sobre crimes cometidos tanto por
agentes do Estado nos anos 60
e 70 como por opositores do regime que foram punidos pela
legislação da época. O que, na
peça, dizia respeito a "uma ferida ainda aberta", nas palavras
de Coelho, passou a ganhar
acento mais grave e direto.
Como exemplo, ele cita a música "Canção do Medo", parceria com Toquinho, que Fadel
entoava com pouca iluminação,
e agora com menos luz ainda. O
piano e o baixo também descem às notas mais graves, fazendo alusão ao som de bombas, como descreve o diretor.
O repertório traz músicas
que tiveram grande alcance nos
anos 60 e 70 por meio da voz de
intérpretes como Elis Regina e
Chico Buarque. Toquinho também, mas nesta apresentação o
compositor e cantor acaba em
destaque, como coautor de várias canções e parceiro íntimo
de Guarnieri.
Um exemplo mais conhecido
dessa parceria são os versos
"Quem souber de alguma coisa/ Venha logo me avisar/ Sei
que há um céu sobre essa chuva/ E um grito parado no ar", da
canção "Um Grito Parado no
Ar", que dá origem ao título do
espetáculo.
Camuflagem
Ao contrário de diretrizes da
época, agora as notas e acordes
dão peso a palavras de alusão à
violência cometida no passado.
"Os arranjos antigos procuravam camuflar as coisas para
evitar problemas", conta Coelho, ressaltando o duplo sentido da maioria das letras, que
disfarçam o teor político utilizando metáforas, em que a referência a um amor torturante
diz respeito a outros tipos de
dores, por exemplo. "Também
é nessa ambiguidade que as
músicas garantem a tônica de
temporalidade", diz Coelho.
Com arranjos de Edu Lobo e
Carlos Lyra, as canções intercalam-se com textos e fragmentos de peças, resgatando um gênero esquecido: o monólogo
musical, em que o ator dialoga
com os músicos que também
estão em cena.
O encontro entre Guarnieri,
Fadel e Coelho aconteceu em
meados dos anos 90, em ciclo
de leitura realizado pela Funarte. Foi ali que os três iniciaram
uma parceria que rendeu novas
músicas -algumas das quais
serão apresentadas. A colaboração mútua resultou ainda na
montagem do espetáculo "Arena Conta Guarnieri", apresentado em 2005.
UM GRITO SOLTO NO AR
Quando: amanhã e dias 13 e 20, às 21h
Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel.
3871-7700)
Quanto: R$ 16
Classificação: 18 anos
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