São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

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Espetáculo resgata obra de Guarnieri

Com direção de Heron Coelho, apresentação intercala textos, fragmentos de peças e repertório políticos

Divulgação
A atriz Georgette Fadel, que interpreta canções dos anos 60 e 70 com arranjos de Edu Lobo e Carlos Lyra no Sesc Pompeia

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a Lei da Anistia, de 1979, motivou o diretor Heron Coelho a modificar a apresentação de "Um Grito Solto no Ar" uma semana antes da estreia. Deu tempo, e o espetáculo em que Georgette Fadel interpreta canções de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) entra em cartaz às quintas no Sesc Pompeia. Mais dramático e abrasivo.
As mudanças funcionam como uma resposta à decisão do STF, que mantém o perdão sobre crimes cometidos tanto por agentes do Estado nos anos 60 e 70 como por opositores do regime que foram punidos pela legislação da época. O que, na peça, dizia respeito a "uma ferida ainda aberta", nas palavras de Coelho, passou a ganhar acento mais grave e direto.
Como exemplo, ele cita a música "Canção do Medo", parceria com Toquinho, que Fadel entoava com pouca iluminação, e agora com menos luz ainda. O piano e o baixo também descem às notas mais graves, fazendo alusão ao som de bombas, como descreve o diretor.
O repertório traz músicas que tiveram grande alcance nos anos 60 e 70 por meio da voz de intérpretes como Elis Regina e Chico Buarque. Toquinho também, mas nesta apresentação o compositor e cantor acaba em destaque, como coautor de várias canções e parceiro íntimo de Guarnieri.
Um exemplo mais conhecido dessa parceria são os versos "Quem souber de alguma coisa/ Venha logo me avisar/ Sei que há um céu sobre essa chuva/ E um grito parado no ar", da canção "Um Grito Parado no Ar", que dá origem ao título do espetáculo.

Camuflagem
Ao contrário de diretrizes da época, agora as notas e acordes dão peso a palavras de alusão à violência cometida no passado.
"Os arranjos antigos procuravam camuflar as coisas para evitar problemas", conta Coelho, ressaltando o duplo sentido da maioria das letras, que disfarçam o teor político utilizando metáforas, em que a referência a um amor torturante diz respeito a outros tipos de dores, por exemplo. "Também é nessa ambiguidade que as músicas garantem a tônica de temporalidade", diz Coelho.
Com arranjos de Edu Lobo e Carlos Lyra, as canções intercalam-se com textos e fragmentos de peças, resgatando um gênero esquecido: o monólogo musical, em que o ator dialoga com os músicos que também estão em cena.
O encontro entre Guarnieri, Fadel e Coelho aconteceu em meados dos anos 90, em ciclo de leitura realizado pela Funarte. Foi ali que os três iniciaram uma parceria que rendeu novas músicas -algumas das quais serão apresentadas. A colaboração mútua resultou ainda na montagem do espetáculo "Arena Conta Guarnieri", apresentado em 2005.


UM GRITO SOLTO NO AR

Quando: amanhã e dias 13 e 20, às 21h
Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700)
Quanto: R$ 16
Classificação: 18 anos




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