São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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Crítica/artes plásticas

Boa seleção resulta na melhor mostra sobre a geração 80

Exposição atesta que o principal da produção da década passa ao largo da pintura

Karime Xavier - 22.mai.2007/Folha Imagem
"Janus Fetus", obra de Ernesto Neto presente em exposição


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Período festejado como o da volta à pintura, a década de 80 ainda não havia ganho um balanço significativo, apesar de algumas tentativas recentes, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2003, e no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2004.
Possivelmente, as falhas das mostras anteriores serviram de auxílio para a realização de "80/90 - Modernos, Pós-Modernos Etc", com curadoria de Agnaldo Farias, no Instituto Tomie Ohtake, pois finalmente a chamada geração 80 é vista, de fato, sem os clichês costumeiros, com as mesmas obras de sempre.
O ponto central da mostra está justamente na seleção refinada do curador, que conseguiu provocar uma nova visão sobre a produção dessa geração. É surpreendente a quantidade de obras pouco conhecidas e, ao mesmo tempo, extremamente pertinentes ao desenvolvimento da poética de cada criador. Um dos melhores exemplos é "A Cachoeira", de Leda Catunda, exposta na polêmica Bienal de São Paulo da "Grande Tela" (1985) e, desde então, revista só uma vez.
"A Cachoeira" é, sintomaticamente, uma obra que fala muito sobre as marcas dessa geração que, se na época foi mais referenciada por sua vinculação à pintura, agora se revela como aquela que provocou de fato a metamorfose da pintura, estabelecendo aí uma continuidade com as propostas do movimento neoconcreto dos anos 60.
Pois a pintura mais instigante dessa geração foi aquela que subverteu a tela e pulou para o espaço, como ocorre não só na obra de Leda, mas também com Adriana Varejão, em "Extirpação do Mal por Incisura"; com o trabalho de Marcos Coelho Benjamim, em madeira com pirogravura; com a geladeira de Alex Vallauri; com "Verte", de Paulo Climachauska; ou com "Atentado ao Poder", de Rosângela Rennó, entre outros.

Tridimensional
E, na ocupação do espaço, essa geração se torna potente na tridimensionalidade, com nomes como Jac Leirner, Ana Tavares, Ernesto Neto, Ricardo Basbaum, Angelo Venosa e Brígida Baltar.
A pintura-pintura, essa permanece mais forte quando seu assunto não é apenas a bidimensionalidade, mas abrange marcas de caráter performático ou mesmo biográfico, como em "Frida", de Dora Longo Bahia, e nos trabalhos de Leonilson. Ou então na referência ao registro fotográfico, como nas pinturas de Luiz Zerbini, ou na mescla entre o erudito e o popular, como nas telas de Beatriz Milhazes.
Com tudo isso, essa primeira avaliação consistente da geração 80 aponta que os artistas que ficaram na pintura não possuem a mesma significação dos que avançaram firmemente na pesquisa da linguagem.
A exposição deixa entrever que muitos trouxeram novas contribuições, enquanto outros continuaram nos anos 80.

80/90 - MODERNOS, PÓS-MODERNOS ETC
Quando:
de ter. a dom., das 11h às 20h; até 15/7
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Brigadeiro Faria Lima, 201, SP, tel. 2245-1900
Quanto: entrada franca
Cotação: ótimo


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