DA REDAÇÃO

Em todos os seus trabalhos, a cantora Fortuna sempre procurou a sacralidade. Foi num show em Itapecerica da Serra (33 km de São Paulo) que a compositora apresentou-se pela primeira vez com um coro de monges. Daí surgiu a idéia de agregar essa sonoridade no trabalho seguinte.
Ela procurou os monges do Mosteiro de São Bento e propôs a união que transcendesse religiões e atingisse valores universais. "Fortuna poderia ter contratado coralistas profissionais e conseguir um som perfeito, mas não era essa a intenção", conta dom Rocco, responsável pelo coro de monges do Mosteiro de São Bento. "A intenção é mais o aspecto religioso que estético."
Depois de uma pesquisa em quase 120 cantos gregorianos, Fortuna compôs algumas canções, escolheu outras da tradição judaica -principalmente a sarafadita, da Espanha- e incluiu nelas o inédito coro religioso católico. A direção artística do CD é do diretor de teatro Iacov Hilel.
"Foi uma idéia muito bem recebida. A Igreja Católica hoje aponta para esse caminho, de encontro com as outras religiões, visível na visita que o papa fez pelas países muçulmanos e cristãos ortodoxos no ano passado", diz a cantora.
O encarte de "Clestia" (pronuncia-se tcheléstia), lançado em abril deste ano, traz um texto do rabino Henry I. Sobel, presidente da Congregação Israelita Paulista, e de dom Isidoro, então abade do Mosteiro de São Bento.
Definido o repertório de ambos os trabalhos, começaram os ensaios, inicialmente separados. Os monges procuraram um ritmo que não fosse arrastado demais, comum nesse tipo de música, nem rápido em excesso.
As gravações foram no estúdio de Fortuna, em São Paulo, e envolveu complicada engenharia para captar as vozes dos 35 monges. "Geralmente gravações desse tipo exageram na reverberação, pois tentam alcançar uma espécie de ambiente "místico" nas músicas", conta dom Rocco.
Após inúmeros testes, Fortuna disse que desenvolveu uma "tecnologia de gravação de canto gregoriano", usada tanto em "Clestia" quanto em "Cantus Selecti".
Nos dias 24 e 25, a judia e os monges apresentam-se no Theatro São Pedro (r. Barra Funda, 171 tel. 3667-0499), num lançamento conjunto dos dois trabalhos (a primeira apresentação foi em Campos do Jordão).
"Os monges são tradicionalmente conhecidos por não tomar partido de nenhuma facção", afirma dom Rocco. (DCA)