São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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EXPOSIÇÃO

Casa Triângulo inaugura hoje mostra em que a artista plástica reconstrói objetos abandonados na cidade

Sandra Cinto propõe arte regenerativa

Divulgação
Detalhe de instalação de Sandra Cinto, em mostra que é inaugurada hoje na Casa Triângulo


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A transformação física promovida pela artista plástica Sandra Cinto, na galeria Casa Triângulo, pode confundir o olhar de visitantes não muito atentos, pois o fio condutor da mostra, que é aberta hoje, tem uma sutileza que merece atenção redobrada para ser percebida.
As paredes que envolvem a escada que leva ao piso da galeria estão pintadas num verde claro que irá dominar todo o espaço expositivo. O percurso já dá indícios da instalação. "Busquei uma cor luminosa, que lembrasse tanto uma casa antiga como um hospital", diz Cinto.
Pois é justamente a sugestão de tratamento terapêutico o principal fio condutor da mostra. Nas salas da galeria, imagens de objetos coletados pela artista na cidade -um vaso, uma cadeira e um lustre- são apresentadas em dois momentos distintos: abandonados e destruídos, nos ambientes onde foram encontrados, e depois regenerados, utilizados novamente com sua função principal, operação realizada pela própria artista.
"Creio que a arte contemporânea tem se ocupado em excesso da realidade, mas sem propor saídas; meu objetivo com essa instalação é apontar a arte como possibilidade de cura, de transformação", afirma Cinto.
Essas imagens de revitalização dos objetos, apesar de tema central, estão envolvidas num ambiente onírico, surreal, que por isso pode, num primeiro momento, desviar a atenção que merece. Um exemplo é a sala reproduzida ao lado, que está com suas paredes repletas de desenhos que remetem a fluxos de água, como se escorressem do teto.
O espaço expositivo está dominado por novas colunas na galeria -esculturas em madeira de pilhas de livros ou torneados e hiperdimesionados pés de mesas. "Busco fazer, com essas esculturas, um comentário sobre a necessidade de equilíbrio na vida, na arte. As colunas arredondadas representam o lado emocional, enquanto as pilhas de livros, o lado racional."
O aspecto cenográfico e complexo da instalação torna difícil conceituar a artista, como questiona o crítico Tadeu Chiarelli no catálogo da exposição: "Esta artista é uma escultora, uma filósofa, uma pintora, uma fotógrafa, uma performer, uma cenógrafa, uma santa?".
Para responder, Chiarelli desvia-se da própria artista, preferindo focar a obra como um texto com "fios de uma trama única e infindável". Por isso, a percepção da instalação depende de um esforço quase arqueológico. Quando realizado, o ciclo regenerativo é completo.


SANDRA CINTO. Onde: Casa Triângulo (r. Bento Freitas, 33, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/3331-5910). Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 3/10. Quanto: entrada franca; obras de US$ 3.000 a US$ 15 mil



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