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CINEMA
Centro Cultural abre retrospectiva do cineasta italiano, diretor de "Roma, Cidade Aberta", "Stromboli" e "Paisá"
Ciclo segue o "ritmo da vida" de Rossellini
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Pouca gente sabe, hoje, quem
foi Roberto Rossellini (1906-77), e talvez estranhe o fato de o
CCSP dedicar um ciclo só a ele. O
estranhamento se justifica. Rossellini nunca foi um cineasta assim
tão conhecido. À parte o imenso
sucesso de "Roma, Cidade Aberta" e um rumoroso casamento
com Ingrid Bergman, teve uma
existência artística discreta. Hoje
é mais lembrado pela filha -Isabella- do que por seus filmes.
Ao mesmo tempo, é difícil lembrar um nome que tenha tido tanta influência sobre os rumos do
cinema moderno, nem que o tenha transformado tão profundamente. Rossellini o fez, aliás, mais
de uma vez. A primeira, em 1945,
quando propôs, com "Roma, Cidade Aberta", um cinema até então inédito: feito longe dos estúdios, com recursos mínimos, atores desconhecidos.
Essa arte não aspirava mais ser
"arte" -a capacidade da imagem
de se distinguir da realidade-, e
sim comungar da realidade, participar plenamente do mundo conturbado do pós-Guerra.
O cinema de Rossellini tem um
caráter liberador; num mundo
que valorizava a técnica, ele sustentou que esta não passa de uma
farsa cujo objetivo é preservar a
hierarquia dos estúdios. E mostrou que se podia fazer cinema sonoro nas ruas, captando o real.
Também encostou certas convenções, como o respeitadíssimo
tempo cinematográfico. No belo
volume "Um Filme É um Filme",
podemos observar em vários momentos como José Lino Grunewald acusa Rossellini justamente
de não controlar o ritmo de seus
filmes. A observação faz sentido:
Rossellini acreditava que o filme
deve seguir o ritmo da vida, não o
inverso. Assim, o "ritmo cinematográfico" seria uma convenção,
portanto nada que interesse a esse
não-artista que é o cineasta.
Essa postura anti-artística levou
Rossellini a uma outra atitude
inovadora: dedicar-se à TV. Seu
raciocínio era que, tendo o cinema sucumbido à idéia de espetáculo, constituindo-se meramente
num negócio, a TV seria o local
correto para veicular sua arte do
real, das imagens do real.
Não é demais lembrar que a TV
para a qual Rossellini trabalhou
era estatal, não dependia de anunciantes nem de audiência; era um
espaço de liberdade, invenção e
educação visual do espectador.
Para Rossellini, o essencial era
explorar novos caminhos e nunca
sucumbir à engrenagem diabólica
do sucesso mundano. Filme após
filme, o espectador perceberá o
inventor que era Rossellini.
ROSSELLINI ENTRE O CINEMA E A TV.
Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel.
3277-3611). Quando: de hoje a 16/11.
Quanto: grátis. Veja a programação em:
www.prodam.sp.gov.br/ccsp
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