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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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CINEMA

Centro Cultural abre retrospectiva do cineasta italiano, diretor de "Roma, Cidade Aberta", "Stromboli" e "Paisá"

Ciclo segue o "ritmo da vida" de Rossellini

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Pouca gente sabe, hoje, quem foi Roberto Rossellini (1906-77), e talvez estranhe o fato de o CCSP dedicar um ciclo só a ele. O estranhamento se justifica. Rossellini nunca foi um cineasta assim tão conhecido. À parte o imenso sucesso de "Roma, Cidade Aberta" e um rumoroso casamento com Ingrid Bergman, teve uma existência artística discreta. Hoje é mais lembrado pela filha -Isabella- do que por seus filmes.
Ao mesmo tempo, é difícil lembrar um nome que tenha tido tanta influência sobre os rumos do cinema moderno, nem que o tenha transformado tão profundamente. Rossellini o fez, aliás, mais de uma vez. A primeira, em 1945, quando propôs, com "Roma, Cidade Aberta", um cinema até então inédito: feito longe dos estúdios, com recursos mínimos, atores desconhecidos.
Essa arte não aspirava mais ser "arte" -a capacidade da imagem de se distinguir da realidade-, e sim comungar da realidade, participar plenamente do mundo conturbado do pós-Guerra.
O cinema de Rossellini tem um caráter liberador; num mundo que valorizava a técnica, ele sustentou que esta não passa de uma farsa cujo objetivo é preservar a hierarquia dos estúdios. E mostrou que se podia fazer cinema sonoro nas ruas, captando o real.
Também encostou certas convenções, como o respeitadíssimo tempo cinematográfico. No belo volume "Um Filme É um Filme", podemos observar em vários momentos como José Lino Grunewald acusa Rossellini justamente de não controlar o ritmo de seus filmes. A observação faz sentido: Rossellini acreditava que o filme deve seguir o ritmo da vida, não o inverso. Assim, o "ritmo cinematográfico" seria uma convenção, portanto nada que interesse a esse não-artista que é o cineasta.
Essa postura anti-artística levou Rossellini a uma outra atitude inovadora: dedicar-se à TV. Seu raciocínio era que, tendo o cinema sucumbido à idéia de espetáculo, constituindo-se meramente num negócio, a TV seria o local correto para veicular sua arte do real, das imagens do real.
Não é demais lembrar que a TV para a qual Rossellini trabalhou era estatal, não dependia de anunciantes nem de audiência; era um espaço de liberdade, invenção e educação visual do espectador.
Para Rossellini, o essencial era explorar novos caminhos e nunca sucumbir à engrenagem diabólica do sucesso mundano. Filme após filme, o espectador perceberá o inventor que era Rossellini.


ROSSELLINI ENTRE O CINEMA E A TV. Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611). Quando: de hoje a 16/11. Quanto: grátis. Veja a programação em: www.prodam.sp.gov.br/ccsp


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