São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Artistas adaptam antiga fábrica na Aclimação

Galpões foram reformados e se transformaram em ateliês, abertos à visitação

Inspiradas pela proposta da Bienal, quatro artistas abrem as portas de seu espaço de trabalho até o final de novembro

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Lucia Py, em seu ateliê na Aclimação; artista foi a primeira a se instalar num dos galpões, atraída pela localização e baixo custo


GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o circuito comercial de arte costuma ficar restrito ao eixo Jardins-Pinheiros-Vila Madalena, quatro artistas vêm nos lembrar que a cidade é grande, muito grande. Nela cabem, por exemplo, os ateliês de Lúcia Py, Sônia Talarico, Paula Salusse e Thaís Gomes.
Instalados numa antiga fábrica do século 19, em pleno bairro da Aclimação, os ateliês já existem há alguns anos como locais de trabalho das artistas; a novidade é que neste mês estarão abertos para a visitação do grande público.
Além de conhecer o trabalho que as quatro desenvolvem, a visita permite um contato com um conjunto arquitetônico raro: os galpões são feitos em tijolo aparente e mantêm a arquitetura fabril do período -hoje raramente preservada em construções da Mooca ou da Barra Funda, por exemplo.
Intitulado Ateliê Espaço Aberto, o projeto foi criado por iniciativa de Risoleta Cordula, galerista que representa as artistas em Paris. A ação ainda inclui outros três ateliês em pontos diversos da cidade.
"A idéia surgiu do tema da Bienal, do "Viver Junto". Como o artista é solitário na sua pesquisa artística, resolvi abrir os ateliês para que ele [elas, no caso] possa dialogar e refletir com o espectador", contou Risoleta em entrevista à Folha.

Diversidade
Quando as quatro se conheceram, Lucia Py já tinha o ateliê de 800 m2 na Aclimação -está lá há seis anos- e incentivou as outras a também se instalarem no local. A boa localização e a vantajosa relação custo/metragem foram alguns dos atrativos. "Sempre procurava ateliês e nunca achei um espaço como este", conta a artista.
Se o conjunto de galpões abrigava originalmente uma fábrica de tecelagem, hoje estão instalados não apenas os ateliês mas pequenas oficinas de marcenaria, cenografia e até mecânica.
Cada artista desenvolve um tipo de trabalho, mas quem visitar os ateliês verá que elas têm algo em comum: todas exploram mais de uma técnica e buscam variar sua produção. Se Lucia Py trabalha com pintura, cerâmica e objetos, Sônia Talarico enfatiza o lúdico em suas pinturas, além de trabalhar sobre metal e tecido. A ênfase na cor e o trabalho com vidro são característicos da obra de Paula Salusse, e o impacto do ateliê de Thaís Gomes está nos enormes painéis com formas circulares que desenvolve.
"O primeiro ato para viver junto é estar aberto, abrir as portas", diz Py. As artistas estão tão satisfeitas com a iniciativa que decidiram repetir a dose e abrir os ateliês no ano que vem, nesta mesma época, independentemente da Bienal.
Para o espectador, fica a diferença entre ver as obras expostas num museu ou galeria e visitá-las em seu próprio espaço de produção. "Criamos a possibilidade de dialogar com o artista e mesmo interferir em algumas obras", disse Risoleta.


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