São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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Crítica/"Sex and the City - O Filme"

Embora com falhas no roteiro, filme vale como um reencontro

Fiel a efeitos do tempo, filme é prejudicado por excesso de clichês "mulherzinha"

Divulgação
Carrie (Sarah Jessica), de Vivianne Westwood, antes do casório

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Quando surgiu na TV, em 1998, a série "Sex and the City" coroava um esforço de mutação pilotado pela HBO desde o início daquela década e que consistia em romper com pudores na linguagem e com os limites, sobretudo os de teor sexual, na temática. O sucesso, como se sabe, foi estrondoso.
Para além da novidade comportamental, a receptividade a Carrie e companhia encontrava-se na expressão de vivências comuns que não se reduzia exclusivamente à de mulheres trintonas em Nova York. Pessoas de ambos os sexos, habitantes de qualquer cidade vagamente metropolitana, confirmaram com "Sex and the City" que suas angústias sexuais e afetivas eram, digamos, universais. O que acontece, porém, quando o seriado acaba e quatro anos depois retorna como "Sex and the City - O Filme"? Os fãs incondicionais não se sentirão frustrados. É para eles, certamente, que os produtores distribuíram com exagero as cenas de encontros do quarteto, sempre seguidas de uma insuportável gritaria, e a profusão de referências a grifes, que transforma a primeira hora do longa num interminável comercial da Daslu. Contudo, o acúmulo dos clichês da figura da "mulherzinha" afasta o filme da forma agradável como a série inoculava seu público com uma irresistível ideologia pós-feminista.
E o que sobra em "Sex and the City - O Filme" da inteligência da série, sua abordagem digamos, antropológica da vida afetiva, seu modo de captar com cinismo o consumismo como fórmula única da felicidade? Pouco ou nada. Ao reencontrar suas personagens, agora na casa dos 40 anos, o filme permanece fiel aos efeitos do tempo (como toda boa série, aliás), mas tem de se equilibrar entre efeitos realistas (a maternidade de Miranda e de Charlotte, a rotina do sexo depois do casamento) e a necessidade de ser "divertido".
Sem muita habilidade, o diretor e roteirista Michael Patrick King, veterano produtor-executivo da série e estreante no cinema, nada mais faz que alinhavar situações, com quebras de ritmo que revelam como o longa se ressente da falta de um roteiro com estrutura de filme.
Por exemplo, toda vez que a trama se aproxima de pontos de crise e ameaça aprofundar a abordagem dramática o filme recebe um daqueles golpes de vento feitos para levantar vestidos. Tal solução recorrente acaba reafirmando que ninguém aprende com a dor, ou seja, qualquer dificuldade existencial se apaga quando se compra uma bolsa Louis Vuitton ou um sapato Manolo.
Outro problema é a duração do longa: 148 minutos equivalem a quase cinco episódios do seriado. E a experiência no cinema difere de assistir a um pedaço de temporada num fim de semana. Em vez do prazer de ver sucessivamente, "Sex and the City - O Filme" dá a sensação de um episódio meia-boca com uma barriga enorme no meio.
E por que, mesmo com tantos defeitos, eu ainda acho o filme bom? Porque ele funciona como aqueles reencontros com velhos amigos. Você os abraça, ri, fica nostálgico e pode sentir que não está sozinho no mundo. Se é que isso ajuda.


SEX AND THE CITY - O FILME
Produção: EUA, 2008
Direção: Michael Patrick King
Com: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Cynthia Nixon e Kristin Davis
Onde: estréia hoje no Anália Franco, Pátio Higienópolis, Bristol, Kinoplex Itaim e circuito; classificação: 16 anos
Avaliação: bom




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