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Grupo Moitará busca a poesia cênica por meio da máscara
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A simbologia das máscaras do
teatro é mais profunda do que
aparentam a tragédia e a comédia
dos broches, vide a ancestralidade
das máscaras balinesas, japonesas
(teatros nô e kabuki) ou italianas
(commedia dell'arte).
Em sua primeira temporada na
cidade, o grupo carioca Moitará
traz a síntese de uma pesquisa
contínua, que já conta 15 anos, sobre o trabalho de ator com a linguagem da máscara teatral.
"Quando a máscara está viva em
cena, ela deixa de ser um objeto
para se tornar um sujeito. Tem
corpo e voz", afirma o diretor Venício Fonseca, um dos fundadores do Moitará.
Em "Imagens da Quimera",
quinta produção do grupo, que
estreou em junho no Rio e cumpre temporada a partir de amanhã no Tusp, as atrizes Daniela
Fossaluza e Erika Rettl atuam
com meias-máscaras para falar da
dualidade do ser e existir.
A máscara da jovem personagem Mitôa (Rettl) quer traduzir
uma essência feminina constituída por elementos da natureza
(água, terra, fogo e ar). Já a da Velha (Fossaluza) envereda pela sapiência de séculos, visceralidade e
pulsão animalesca do humano
Eis a composição dos contrastes
(Oriente/Ocidente, sonho/realidade, vida/morte), simbiose com
a qual o Moitará pretende conduzir o imaginário e a emoção do espectador ao estado do sonho, da
poesia cênica. "Não é uma história para ser assistida somente com
a razão. É para ser sentida como a
música que tem começo e fim,
mas é plena em nuanças", diz
Fonseca, 44.
A palavra (roteiro inspirado em
conto do filósofo austríaco Martin
Buber, 1878-1965), a luz, o espaço
cenográfico e a música têm pesos
fundamentais na construção desses fragmentos oníricos.
Piauiense da cidade de Floriano,
Fonseca mora no Rio desde os 15
anos e costuma associar imagens
da infância às criações.
No início dos anos 90, a passagem dele e de Rettl pelo Centro
Maschere e Strutture Gestuali, na
Itália, dirigido por Donato Sartori, referência mundial, ajudou a
moldar a trajetória do Moitará
(expressão da tribo kamaiurá que
designa troca de artefatos medida
por necessidade vital).
IMAGENS DA QUIMERA. Roteiro: grupo
Moitará. Concepção e direção: Venício
Fonseca. Direção musical: Adriana
Miana. Com: grupo Moitará. Onde: Tusp
(r. Maria Antônia, 294, tel. 3255-5538).
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às
21h; dom., às 20h; até 21/12. Quanto: R$
15. Patrocinador: Eletrobrás.
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