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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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Grupo Moitará busca a poesia cênica por meio da máscara

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A simbologia das máscaras do teatro é mais profunda do que aparentam a tragédia e a comédia dos broches, vide a ancestralidade das máscaras balinesas, japonesas (teatros nô e kabuki) ou italianas (commedia dell'arte).
Em sua primeira temporada na cidade, o grupo carioca Moitará traz a síntese de uma pesquisa contínua, que já conta 15 anos, sobre o trabalho de ator com a linguagem da máscara teatral. "Quando a máscara está viva em cena, ela deixa de ser um objeto para se tornar um sujeito. Tem corpo e voz", afirma o diretor Venício Fonseca, um dos fundadores do Moitará.
Em "Imagens da Quimera", quinta produção do grupo, que estreou em junho no Rio e cumpre temporada a partir de amanhã no Tusp, as atrizes Daniela Fossaluza e Erika Rettl atuam com meias-máscaras para falar da dualidade do ser e existir.
A máscara da jovem personagem Mitôa (Rettl) quer traduzir uma essência feminina constituída por elementos da natureza (água, terra, fogo e ar). Já a da Velha (Fossaluza) envereda pela sapiência de séculos, visceralidade e pulsão animalesca do humano
Eis a composição dos contrastes (Oriente/Ocidente, sonho/realidade, vida/morte), simbiose com a qual o Moitará pretende conduzir o imaginário e a emoção do espectador ao estado do sonho, da poesia cênica. "Não é uma história para ser assistida somente com a razão. É para ser sentida como a música que tem começo e fim, mas é plena em nuanças", diz Fonseca, 44.
A palavra (roteiro inspirado em conto do filósofo austríaco Martin Buber, 1878-1965), a luz, o espaço cenográfico e a música têm pesos fundamentais na construção desses fragmentos oníricos.
Piauiense da cidade de Floriano, Fonseca mora no Rio desde os 15 anos e costuma associar imagens da infância às criações.
No início dos anos 90, a passagem dele e de Rettl pelo Centro Maschere e Strutture Gestuali, na Itália, dirigido por Donato Sartori, referência mundial, ajudou a moldar a trajetória do Moitará (expressão da tribo kamaiurá que designa troca de artefatos medida por necessidade vital).


IMAGENS DA QUIMERA. Roteiro: grupo Moitará. Concepção e direção: Venício Fonseca. Direção musical: Adriana Miana. Com: grupo Moitará. Onde: Tusp (r. Maria Antônia, 294, tel. 3255-5538). Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h; até 21/12. Quanto: R$ 15. Patrocinador: Eletrobrás.


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