São Paulo, sábado, 7 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO - CRÍTICA
"Os Coveiros" mantém a essência e humor dos clowns shakespearianos

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

A cena dos coveiros em "Hamlet" é das mais conhecidas e talvez aquela que o público recebe melhor, na tragédia. É o alívio cômico antes da carnificina, no final.
Os personagens, chamados também de clowns, são palhaços, mas podem ser descritos melhor como seres rústicos e simples, representantes, de certo modo, do senso comum. Seu humor é involuntário.
O melhor que se pode dizer de "Os Coveiros", a peça de Bosco Brasil inspirada na cena de "Hamlet", é que mantém na essência as características dos coveiros shakespearianos.
Estão lá a mesma rusticidade, o mesmo humor involuntário, o mesmo senso comum que torna os personagens tão próximos do público.
˛
Interpretações
O "Primeiro Coveiro" é interpretado por Jairo Mattos, com uma atenção rigorosa ao detalhe da interpretação física.
O ator construiu seu personagem, claramente, com extremo cuidado. Valeu-se do texto, rico nos equívocos de linguagem e nas confusões clownescas -em certos momentos, rico até demais, a ponto de merecer alguns cortes.
Apoiado na direção de Hugo Possolo, que é ator e o grande herdeiro da tradição dos palhaços brasileiros, Mattos divide com o também ótimo e até mais característico Eric Nowinski, que interpreta o administrador do cemitério e faz as vezes do "Outro" coveiro, quadros de divertida coreografia cômica.
Não faltam momentos de "slapstick", o "pastelão" físico dos filmes mudos.
O enredo é engenhoso, em sua adaptação dos coveiros shakespearianos à realidade presente e brasileira: o coveiro cuida de um cemitério miserável e inventa uma "santinha" para tirar dinheiro de romeiros; chega o administrador e o desmascara, até que suas próprias motivações (do administrador) se revelam ainda mais tragicômicas do que as do coveiro; e eles se unem.
Citações

Também não faltam, inteiramente justificadas, citações de "Hamlet", como o questionamento do enterro em "campo santo" de uma jovem que se suicidou.
Além de um cenário em parte descuidado, o que prejudica "Os Coveiros" é a sua programação à meia-noite. A peça, pela extensão e características, merecia horário nobre.
˛

Peça: Os Coveiros
Texto: Bosco Brasil
Direção: Hugo Possolo
Elenco: Jairo Mattos e Eric Nowinski
Quando: sexta e sábado, às 24h
Onde: Teatro Ruth Escobar (r. dos Ingleses, 209, tel. 011/289-2358)
Quanto: R$ 10




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.