|
Próximo Texto | Índice
CINEMA
Ciclo no Centro Cultural São Paulo reúne filmes realizados por diretoras brasileiras, como "Tônica Dominante"
Produção feminina está ainda no "quase bom"
Divulgação
|
Fernando Alves Pinto e Vera Holtz em cena do filme "Tônica Dominante", atração da mostra Cinema de Mulheres no CCSP |
NINA HORTA
COLUNISTA DA FOLHA
Chamam-se festivais de cinema, mas são maratonas,
principalmente se você estiver interessado em formar uma opinião
geral dos filmes. Assisto, como
simples espectadora, não como
cozinheira (que sou) nem como
crítica (que não sou).
São filmes de diretoras, mulheres, e consigo ver: "Patriamada",
"Eternamente Pagu", "Copacabana", "Como Ser Solteiro", "O Casamento de Louise", "Bananas Is
My Business", "Revolta dos Carnudos", "Brava Gente Brasileira",
"Terra para Rose".
Fiquei pensando, de olho parado, no que teriam em comum essas mulheres e seus filmes. Cheguei à conclusão rápida e superficial de que:
1 - Gostam muito do Rio de Janeiro e bobas são -nada como o
Rio como ator para roubar todas
as atuações e falas. A cidade solapa tudo na sua boniteza postal.
2 - Todas assistiram às chanchadas brasileiras, gostaram e guardam um pouquinho delas para citá-las nos filmes que fazem.
3 - São brasileiras até mais não
poder e preocupadas com a sorte
do Brasil. Querem fazer filmes
que mudem o Brasil. Esse talvez
não seja o melhor jeito de fazer
bons filmes... e de ajudar o país
não sei.
4 - São apaixonadas por um documentário com voz em "off". A
voz nem sempre com um tom
bastante nostálgico e triste, que
incomoda, consegue até baixar
uns decibéis da esfuziante "Brazilian Bombshell". Por pouco a Carmen Miranda chora.
5 - Todas fizeram um filme
"quase muito bom". São especialistas em filmes quase bons, o que
já é muito. Ótimo, mesmo, autêntico, saído do coração, não vi nenhum, irregulares, um pouco
cansativos.
Começam bem, vão perdendo o
embalo, ou se extraviam, deixam
a gente com um gosto de quero
mais na boca. Não são redondos,
não se sai do cinema cantando ou
chorando, ou mesmo sorrindo
por dentro.
Poesia dominante
Agora, o último filme da mostra
é "Tônica Dominante", nada comercial, é verdade, peguei em
DVD. E se é para ser chato, vamos
ser chatos enormes, monumentais, como Godard.
Não dá para acreditar que seja o
primeiro longa-metragem de
uma mulher que nem cineasta
era, mas clarinetista das boas, Lina Chamie. Se você é dessas pessoas que quer entender completamente um filme, não vá.
É filme de sentir. Lindo, um
poema, onde a música rasga o vazio, o tempo, a solidão, o deserto,
e vai sozinha bordando em azul,
vermelho e dourado o filme e o
mundo.
A música acima de tudo
Boy e girl se encontram, se
olham, se desentendem, se entendem, mas a palavra não tem vez,
não dão a menor pelota para a palavra, só para a imagem e a música, e que imagem, e que música!
Só pode falar o maestro, o organizador, o que rege as altas esferas.
Os outros personagens são fragilizados vasos da poesia, criaturas tomadas pelo imenso mistério
da arte, pequenos seres que lutam
com a angústia do belo, do tempo,
que se debatem com a técnica,
que tropeçam no tapete, são assaltados, atendem o estridente telefone, viram páginas de partituras.
Suas armas? São seus instrumentos detalhados, formalizados,
amados, respeitados,vasculhados
peça a peça, veículos predestinados do cantar do artista, coisas
amadas, lustradas, são eles afinal
que vão um dia dar ao mundo a
luz. E o artista caminha pela cidade, envereda pelo escuro das vielas para sair no fim do túnel. Enfim, o brilho.
Eu não sei explicar esse filme,
tenho ouvido ruim, a voz poética
não cala em mim como deveria
calar, seria ir além de meus próprios tamancos, vá você ao festival, ou compre o DVD, e assista
duas vezes por dia até ele entrar
em você e ficar fazendo parte de
sua procura.
CINEMA DE MULHERES - Mostra que
apresenta filmes brasileiros de várias épocas dirigidos por mulheres. Onde:
Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, zona sul, tel. 3277-3611, ramal 221). Quando: até o dia 2 de abril. Quanto: grátis (os ingressos deverão ser retirados uma hora antes do início da
sessão).
Próximo Texto: Shows de rap, MPB e palestras incrementam Dia da Mulher Índice
|