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CRÍTICA/"PAISAGEM MÍNIMA"
Lescher busca fluidez em esculturas
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Logo na entrada da galeria vê-se uma pequena engrenagem
composta por dois objetos em
formato quadrangular de madeira: um está colado à parede, outro, suspenso no ar por um eixo
que sai do primeiro quadrado.
Aquele que está livre possui uma
manivela que pode ser manipulada pelo espectador.
Quem o faz ou se imagina fazendo -afinal, apenas a operação
mental já é suficiente- irá criar, a
partir das pontas do quadrado,
uma imagem arredondada, justamente a forma que irá se repetir
na maioria das obras que o artista
Artur Lescher apresenta em "Paisagem Mínima" (hoje é o último
dia, na galeria Nara Roesler).
Com isso, Lescher revela, logo
no início da exposição, não só o
formato padrão que será visto a
partir de então -o curvilíneo-,
mas sua característica relação
com o espaço, pois a manivela só
pode ser movida, já que seu eixo
está preso ao quadrado na parede.
As esculturas de Lescher, e isso
não é novidade, não são apenas
esculturas. Elas sempre possuem
um caráter de instalação, já que
interagem com o local onde são
exibidas, redesenhando esses espaços. Elas estão sempre em diálogo com o entorno, como o que
ocorria, por exemplo, na 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, em que
obras horizontais -uma de madeira e outra recheada com
água- estavam em sintonia com
o espaço, também horizontal, do
próprio Pavilhão da Bienal.
Agora, em "Paisagem Mínima",
Lescher radicaliza essa operação,
a ponto de criar a impressão de
que agora elas, as esculturas, realizaram um movimento e foram
como que congeladas, antes que
terminassem seu destino. Não
por acaso, agora elas passaram a
ter título e, em geral, nomes que
sugerem movimento: rio, chuva,
cachoeira, cometa. Se antes suas
obras sugeriam harmonia, como
na Bienal, agora elas insinuam
fluidez, deslocamento.
É assim em "Raio", o trabalho
na mostra que melhor transparece essa postura: dois imensos cones partem da parede em forma
perpendicular e suas pontas chegam próximas do chão, ameaçando rompê-las. Parecem interrompidas antes do momento fatal.
"Chuva" apresenta esse mesmo
princípio, pois apresenta um
agrupamento de objetos com formas cônicas suspensos no ar.
Improvisação
Mas "Paisagem Mínima" traz
ainda algo distinto nas obras até
então produzidas por Lescher:
um grau de improvisação, de
caos. É assim em "Rio Prata",
"Rio" e "Praia", obras que apresentam matérias moles em formatos orgânicos, algumas compostas por fios que se espalham
no chão. Nessas obras, a costumeira precisão formal do artista
dá espaço à improvisação, e sua
costumeira formalidade no uso
de materiais, como a madeira e o
metal, passa a abarcar também
elementos mais maleáveis e instáveis, como folhas de alumínio.
Essa fluidez, que já se prenunciava por meio da manivela na
primeira obra da mostra, dá nova
amplitude às relações espaciais
que as obras de Lescher ativam. Se
antes havia um estado de repouso
em suas obras, agora uma nova
tensão sugere novos caminhos
para suas esculturas.
Artur Lescher - Paisagem Mínima
Quando: hoje, das 11h às 17h (último
dia)
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa,
655, Jardim Europa, tel. 3063-2344)
Quanto: entrada franca
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