São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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Mostra destaca idas e vindas do período moderno

Obras de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Portinari e Di Cavalcanti revelam oscilações entre vanguarda e convenção

Museu de Arte Brasileira da Faap expõe mais de 70 telas de seu acervo ao lado de pensamentos e reflexões dos modernistas brasileiros

Divulgação
Detalhe de "homens das Sete cores" (1917), de Malfatti

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na retina assombrada de Anita Malfatti, ficaram gravadas pelo menos sete cores. Quando criança, a artista amarrou as tranças e foi deitar sob os trilhos de trem da Barra Funda para ter uma impressão de delírio e loucura. Virou um dos maiores nomes do modernismo brasileiro, até que uma crítica de Monteiro Lobato ceifou sua vontade de vanguarda.
Aquele texto, "Paranoia ou Mistificação", se dirigia em parte ao quadro "Homem das Sete Cores", exposto agora no Museu de Arte Brasileira da Faap com outras telas clássicas do modernismo do país.
Depois do que Malfatti chamou de "cores e cores riscando o espaço", seguem retratos mais convencionais, podados para não ferir os olhos da crítica. Em parte, a evolução, ou degeneração, da artista, sintetiza o resto dessa escola.
Tarsila do Amaral também aparece na mostra com um retrato em estilo clássico e outro, do marido Oswald de Andrade, atormentado pelas linhas cubistas que estava aprendendo.
Logo em frente, "O Sapo" já mostra o "azul puríssimo", o "verde cantante", ou seja, as "cores caipiras" que descobriu e anunciam sua insitência em retratar um Brasil brasileiro.

"Mestiça" e "Mulata"
Tão mestiço quanto o povo exaltado por Portinari, que vai da técnica clássica em "Retrato de Pagu" à luminosidade porosa, vibrátil de sua "Mestiça".
Futurismo, cubismo, impressionismo se diluem, de modo antropofágico, nas linhas, formas e cores desses artistas. Di Cavalcanti dá um passo além e enxerta uma dose de volume e carnalidade em "Mulata". Tem pele salgada, poros saltados na pincelada, a mulher escura que olha para fora da tela. Ofusca a moça branca, quase verde na sombra, no fundo do quadro -um desejo de mistura se derrete nesses contornos.
Na tentativa de esfacelar o tempo, Ernesto De Fiori sobrepõe às formas fixas um emaranhado de linhas soltas. Faz reverberar o espaço, como faziam os futuristas italianos, mas com a diferença que não exalta a máquina. "O Jantar" explora a vertigem e os calafrios que assolam a mesa de um casal.
São olhares que se atropelam como locomotiva. É a mesma convulsão de cubos e esferas que formam o "Adolescente", de Ismael Nery. Amálgama de tanta coisa, à moda modernista, é um rapaz com feições alienígenas, vindo de algum lugar entre maquinal e carnal, um Cézanne despudorado.


FORMAS E REVELAÇÕES

Quando: de ter. a sex., das 10h às 20h; sáb. e dom., das 13h às 17h; até 2/5
Onde: MAB (r. Alagoas, 903, tel. 3662-7198)
Quanto: entrada franca




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