São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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EXPOSIÇÃO
Mostra de 308 desenhos e aquarelas de Charles Landseer (1799-1878) traz registros da independência do Brasil
"Brasil 1825-26" abre "Álbum Highcliffe"

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

Tem perfil de evento histórico a mostra que a Fundação Maria Luísa e Oscar Americano inaugura hoje à noite e que em abril segue para o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.
"Brasil 1825-26, Charles Landseer e a Missão Britânica" torna visível uma coleção que poucos conhecem: o "Álbum Highcliffe", composto de 308 desenhos e aquarelas realizadas pelo artista Charles Landseer (1799-1878) durante a missão britânica de reconhecimento da independência brasileira.
Além do álbum, poderão ser vistas ainda 32 obras de William Burchell, Henry Chamberlain e Jean-Baptiste Debret, incorporadas pela expedição britânica a seu acervo artístico devido aos temas: sítios geográficos, arquitetura e aspectos da vida social brasileira à época da Independência.
Em 29 de abril próximo, após as exibições paulista e carioca, todo esse conjunto -adquirido dos ingleses em 1924 pela família carioca Guinle- será colocado à venda pela Christie's de Londres, dentro da série de leilões intitulada "Exploration and Travel".
Tal documento artístico provavelmente iria parar em mãos estrangeiras, não fosse uma proteção do patrimônio histórico, a Lei nº 4.845, Anexo 15, de 1965, que proíbe a exportação de obras de arte do período monárquico.
Novos arranhões no chamado "orgulho nacional" serão contornados com a seguinte medida prática: a Christie's só entrega o álbum a compradores de nacionalidade brasileira.
Até hoje, a coleção teve apenas dois proprietários. Permaneceu por quase cem anos em poder da família do embaixador e chefe da missão britânica, Charles Stuart. Em 1924, o historiador Alberto Rangel comprou-a para os brasileiros, e agora a família Guinle Paula Machado as vende por um lance mínimo de US$ 470 mil. Esse foi o preço estabelecido apenas para o álbum produzido por Landseer, o artista oficial da missão britânica.
Os outros lotes serão negociados à parte. Caso alguma instituição ou mecenas venha a adquirir o acervo, sua exibição pública poderá ser assegurada, contrariando a rotina dos últimos 173 anos.
O Highcliffe é um álbum encadernado em couro, com 125 páginas. Das 308 obras nele enfeixadas, 31 retratam a comitiva chefiada por Stuart; 125 se ocupam de registrar a passagem por Portugal; e 152 trazem vistas célebres de cidades brasileiras, retratos do casal imperial brasileiro, a atividade comercial nas ruas do Rio, então considerada "efervescente" etc.
Além das obras de Landseer, a mostra traz 18 aquarelas de William Burchell, de refinado acabamento, com paisagens e prédios históricos de Rio, São Paulo e Cubatão; duas aquarelas de Henry Chamberlain registrando o casarão Stuart no Catete; e doze aquarelas de Debret, mostrando negros, índios e mestiços.

Mostra: Brasil 1825-1826 Onde: Fundação Maria Luísa e Oscar Americano (av. Morumbi, 3.700, tel. 842-0077) Quando: hoje, às 19h (para convidados); de ter. a sex., das 11h às 17h; sáb. e dom., das 10h às 17h (até dia 28)

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