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CINEMA
Em entrevista à Folha, diretor britânico fala sobre a preparação e as inspirações para "A Festa Nunca Termina"
No caos, Winterbottom filma Manchester
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Um filme sobre Manchester. Ou
mais "restritivo" ainda: um filme
sobre a cena musical de Manchester, entre 1976 e 1992. O diretor,
Michael Winterbottom, 42, diz
por que as bandas e o movimentado cenário cultural de uma cidade de 500 mil habitantes (dados
de 2001) podem interessar tanto a
quem vive no norte da Inglaterra
quanto a um paulistano:
"Todo filme fala sobre um local
particular em um espaço de tempo particular. Quando comecei a
me interessar por cinema, assistia
coisas de Werner Herzog, Fassbinder, e eu nunca tinha ido à Alemanha. E aquilo, mesmo vindo de
uma cultura diferente, representava muito para mim. Ninguém
diz que um filme ambientado em
Los Angeles tem um alcance curto
-e Manchester é uma cidade
muito mais interessante que Los
Angeles. De longe".
Winterbottom ("Bem-Vindo a
Sarajevo") fala sobre "A Festa
Nunca Termina" ("24 Hour Party
People"), seu documentário com
toques fictícios que retrata desde
o primeiro show dos Sex Pistols
em Manchester, para 42 pessoas,
até o desmantelamento da acid
house, o gênero dance que pegou
um pouco da música de Chicago,
misturou com influências do pop
britânico e gerou a trilha das pistas dos clubes europeus na época.
Produzido em 2002, está em cartaz atualmente em São Paulo.
A história é encadeada por um
personagem, Tony Wilson, o
apresentador de TV que levou aos
lares britânicos os punks (Sex Pistols, Buzzcocks) e os punks-de-atitude (The Jam, Siouxsie & the
Banshees, Iggy Pop), fundou a
Factory Records (Joy Division,
New Order, Happy Mondays) e o
fundamental clube Haçienda.
Com um assunto caro a muitos
no mundo inteiro, Winterbottom
se cercou de cuidados na preparação do roteiro.
"Nós falamos primeiro com
Tony Wilson, depois entrevistamos todos que tinha alguma conexão com as bandas. Quando
definimos o "cast", os atores se encontraram com as pessoas que
iriam interpretar. Claro que alguns já estão mortos -então
Paddy Considine encontrou a
viúva de Rob Gretton [empresário do Joy Division], Sean Harris
conversou com a viúva de Ian
Curtis [vocalista do grupo, que
cometeu suicídio em 1980]."
Por e-mail, à Folha, ele continua, com detalhes curiosos: "Enviamos o roteiro para os que seriam interpretados no filme, para
que eles comentassem o que
acharam. Todos ficaram entusiasmados, com exceção da primeira
mulher de Wilson, Lindsay, que
queria nos processar".
"Originalmente, havíamos escrito que ela havia feito sexo com
Vini Reilly [cantor] no banheiro
de uma casa de shows. Aí Lindsay
disse que o ocorrido fora com Howard Devoto [Buzzcocks]. Depois, quando ela viu a cena no filme, afirmou que ocorrera num
quarto. E mudou de idéia novamente, dizendo que ficara constrangida com o fato de que todo o
mundo saberia que ela havia transado com alguém tão estúpido como Howard Devoto."
"A Festa..." ganha um caráter
intimista com o público pelas
imagens da câmera digital usada
por Winterbottom nas filmagens.
"Estava decidido a utilizar um
formato com câmeras portáteis e
sem muitos efeitos externos."
Após "A Festa...", Winterbottom dirigiu "In this World" (sobre afegãos que tentam se refugiar
na Inglaterra, em exibição na Europa) e finalizou "Code 46".
Sobre "A Festa...", o britânico
resume: "Todos nos contavam
suas próprias (e muitas vezes contraditórias) versões dos fatos. Não
acho que exista uma "versão verdadeira", então peguei as que gostava mais. A idéia era realizar um
filme com o mesmo espírito da
Factory, que se inspirou nas idéias
punks e, mesmo no meio de um
caos, criou música brilhante".
A FESTA NUNCA TERMINA. ("24 Hour
Party People"). Produção: Grã-Bretanha/
França/Holanda, 2002. Direção: Michael
Winterbottom. Com: Steve Coogan, Sean
Harris. Quando: em cartaz nos cines
Cinearte, Frei Caneca Unibanco Arteplex,
Market Place Cinemark e Top Cine.
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