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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Em primeira individual em SP, com curadoria de Angélica de Moraes, gaúcha mostra perfil de sua obra

Elida Tessler expressa falas inacabadas

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Tu não tem aí uma chave que o segredo não serve mais?", perguntava a artista às pessoas que encontrava, dos amigos aos taxistas. A coleção de chaves sem dono, sem par, sem função cresceu graças a esse esforço coletivo, à troca de afetos que é tão presente na produção de Elida Tessler. A obra, intitulada "Palavras-Chaves", reúne em claviculários as chaves com gravações que segredam palavras de textos literários.
Na instalação "Coisas de Café Pequeno", encontramos as palavras do romance de Zulmira Ribeiro Tavares gravadas em prendedores de roupa, expostos contra um fundo formado por seis varais com toalhas brancas penduradas. A artista extraiu do livro todas as palavras que nomeavam objetos, vocábulos palpáveis que ela dispõe linearmente no varal, sintetizando a leitura do romance.
Como vasos comunicantes, as obras escolhidas pela curadora Angélica de Moraes para a mostra dialogam entre si, clarificam o processo e a trajetória da artista, dando a ver um poético léxico de coleções que falam de afeto, de vida cotidiana e de memória.
O trabalho mais emblemático é "Falas Inacabadas", uma bancada com objetos feitos com gaze, arame, palha de aço e outros materiais que parecem surgir da urgência e que formam uma coleção sobre a passagem do tempo (mergulhados que são em recipientes com água, deixando resíduos-desenhos). Iniciado em 1993, o projeto ganhou novas configurações em mostras diversas e, como o título indica, permaneceu inacabado, incorporando outros objetos.
Essa lenta absorção, que transforma frascos de vidro em pinturas ou gravuras, perpassa todas as obras (absorção de segredos, de camadas de lembranças etc.). Uma produção artística assim ligada à memória é necessariamente atravessada pela questão da efemeridade. A artista incorpora serenamente os efeitos do tempo sobre as peças e se refere, por exemplo, a uma série antiga de desenhos feitos por meio de oxidação desta forma: "Minha esperança é que um dia eles virem pó".


VASOS COMUNICANTES. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 229-9844). Quando: vernissage hoje, das 11h às 15h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 15/6. Quanto: R$ 4 (aos sábados, entrada franca).


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