São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Crítica/artes

Com atuação simplista, Yoko Ono cria performance constrangedora

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ótima exposição que será inaugurada hoje, "Yoko Ono, uma Retrospectiva", no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, e mesmo a carreira da própria artista, uma das pioneiras da arte conceitual, parecem muito deslocadas em relação ao que foi visto anteontem, no Teatro Municipal, em "Uma Noite com Yoko Ono".
Enquanto no CCBB estão algumas peças históricas, como as "Instruções", e mesmo trabalhos recentes bastante significativos, a performance da última quinta foi de um simplismo estarrecedor.
Com um terno branco, Yoko entrou no palco e imediatamente tirou a roupa, revelando um conjunto de bermuda e camisa pretas. Contudo, uma ação que pretendia-se simbólica, como mudar a roupa glamourosa para outra escura e simples, foi vazia.
Em seguida, Yoko atravessou a moldura de um espelho, sem ele, que estava sobre um pequeno tablado coberto de tapetes. Mais uma ação de simbolismo frágil, como as várias que se repetiriam ao longo dos 55 minutos do espetáculo: entrar com o rosto coberto por um saco preto, arrastar-se dentro de um saco branco...
Às vezes, uma nostalgia profunda era vislumbrada, especialmente pelas imagens projetadas no imenso telão, como as de John Lennon, seja com o filho Sean, seja em manifestações de protesto.
Foi com os trabalhos daquele período, aliás, que o espetáculo teve alguns bons momentos. "Freedom" (1970), um vídeo tipicamente feminista, de uma mulher que se debate para tirar o sutiã, com trilha de John Lennon, ao menos trazia um caráter histórico importante na vida da artista. Mas momentos assim foram raros.
Pior foi o final, quando o grupo de músicos que acompanhou a artista -ela cantou bastante, passou a tocar samba, provocando passos desequilibrados. Poderia ser charmoso, mas apenas culminou o roteiro de constrangimentos da noite. Ao final, Yoko arrancou muitos aplausos, como, aliás, já havia conseguido cada vez que entrava ou saía do palco. Afinal, era mito que o público queria e para quem quer mito, a mera presença já é suficiente, mesmo que embaraçosa.

Avaliação (performance): ruim


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