São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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CINEMA

Filmes dos diretores teatrais Antunes Filho e Zé Celso são atrações brasileiras em evento internacional e gratuito

Mostra delineia as faces do negro na tela

Divulgação
Cena de "Compasso de Espera", longa dirigido pelo encenador Antunes Filho, que está na 1ª Mostra Internacional do Cinema Negro


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Único filme dirigido pelo encenador Antunes Filho, "Compasso de Espera" (70) será exibido gratuitamente hoje (às 18h), no Centro Cultural São Paulo, na programação de abertura da 1ª Mostra Internacional do Cinema Negro.
Os 27 títulos da mostra, a exposição de artes plásticas e os quatro debates agendados até 16/5 (data de seu encerramento) buscam apresentar múltiplas visões da representação artística do negro, excluindo aquelas de abordagem enviesada por preconceitos ou esquematizações.
"Compasso de Espera", para mim, é a reflexão mais profunda sobre o negro urbano", diz o cineasta Jefferson De, presente na mostra com "Gênesis 22" (1999), curta de dois minutos e meio, realizado como exercício de seu curso de cinema, sob orientação do crítico Jean-Claude Bernardet.
O longa de Antunes Filho gira em torno de um triângulo amoroso formado por um homem negro e duas mulheres brancas. O diretor atribui a boa acolhida do filme à intenção com que foi realizado. "É [sobre] um negro. Não são todos os negros. É o negro focado, discutido, apresentado em suas contradições. Não fiz um filme para vender", diz.
Outro título da mostra é "25", filmado em 1975, em Moçambique, pelo também diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, em parceria com Celso Lucas. O título do filme é referência ao dia da independência do país africano, 25 de junho, e também ao 25 de abril de 1974, que marcou a queda da ditadura salazarista em Portugal, onde Zé Celso vivia exilado, quando filmou "25".
A convite de uma equipe de TV portuguesa, os diretores brasileiros se deslocaram para Moçambique, com a intenção de filmar os festejos populares pela independência do país. "Eles [a equipe de TV] voltaram, e nós quisemos ficar", diz Zé Celso.
"25" acabou tendo duas versões, uma com 90 minutos de duração, editada para exibição na TV francesa, que será apresentada na atual mostra paulistana, e outra com duas horas e 46 minutos. Nos dois casos, os diretores buscaram "uma montagem rebolada" e um resultado "o mais negro possível".
Admirador da cultura africana, Zé Celso avalia que falta haver uma presença mais forte de artistas negros na produção cinematográfica brasileira. "Não temos um diretor de cinema brasileiro como temos um Carlinhos Brown na música. A cultura africana, que musicalmente é dominante, tem tudo a dar para o cinema", diz.
Jefferson De, que prepara seu primeiro longa, "TV do Ano", a ser estrelado pelo cantor Netinho, tem avaliação semelhante: "Não me interessa mais discutir a representação do negro no cinema. É hora de discutirmos o negro como produtor de audiovisual. Chegou o momento de cometermos nossos próprios erros", afirma.
Outra discussão, sobre a imagem do negro na mídia, ocorrerá em São Paulo, nos próximos dias 25 e 26, num seminário internacional, de iniciativa do departamento de mídia e etnia da Escola de Comunicações e Artes da USP.

1ª MOSTRA INTERNACIONAL DO CINEMA NEGRO. Exibição de 27 filmes, exposição de obras de seis artistas plásticos e realização de quatro debates. Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Quando: de hoje a 16/5. Grátis.


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