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Franceses vêm a São Paulo para investigar a "geografia do outro"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Num dos cômodos do casarão
do século 18, a metros do marco
zero de São Paulo, o diretor Georges Lavaudant, 57, nome dos mais
respeitados no teatro francês
atual, ensaia leitura de mesa com
atores brasileiros, entre eles Paulo
Autran, 80.
Na sala ao lado, outro encenador francês, Moïse Touré, 42, de
ascendência africana, comanda a
oficina "Irmãos" com atores de
grupos como o anfitrião Teatro
da Vertigem, que ocupa a Casa
Número 1 (patrimônio histórico
da cidade), o Oficina Uzyna Uzona, Satyros, Latão e Folias d'Arte.
Esses caminhos se entrecruzam
nas atividades do evento "Geografia do Outro - Versões do Teatro Francês Contemporâneo",
que acontece até amanhã.
"O palco é lugar do risco", diz
Lavaudant (palco também entendido como espaço não convencional) no primeiro encontro
com os atores que vão ler "Pandora", peça do filósofo e poeta Jean-Christophe Bailly (1949).
O texto visita o mito da mulher
enviada pelos deuses com a caixa
que contém todos os males.
Depois, na conversa com a Folha, Lavaudant explica que esse
território do risco lhe é essencial.
Ele se diz movido por "curiosidades" desde que iniciou a carreira,
no final dos anos 60. Foi o que o
fez trabalhar freqüentemente em
terras estrangeiras, como a Rússia, a Índia, o México e o Brasil,
que agora conhece.
Diretor artístico do Odéon, em
Paris, teatro para o qual convergem artistas russos, poloneses,
alemães, enfim, uma pequena comunidade européia das artes cênicas, mantido pelo governo, Lavaudant diz que em suas andanças pelo mundo deparou com
países em que o fazer teatral esbarra no precário.
Sob as perspectivas política e
econômica, o cidadão Lavaudant
acha que isso é um problema a ser
superado principalmente pela sociedade e por quem a governa.
Do ponto de vista artístico, ele
vê paradoxos. "Às vezes, os criadores estão anestesiados pelo discurso de que não há dinheiro, de
que não há tradição teatral. Você
pode encontrar 50 desculpas, elas
sempre existirão. Eis o perigo."
Seu colega, Moïse Touré, conhece bem o trânsito "centro-periferia". Ele nasceu na Costa do Marfim e já trabalhou em países como
República Dominicana, Marrocos e Japão.
Aos atores brasileiros, Touré
propõe uma investigação sobre
textos do dramaturgo Bernard-Marie Koltès (1948-89), como
"Roberto Zucco" e "Na Solidão
dos Campos de Algodão".
"Geografia da Fome" traz subsídios para o Teatro da Vertigem,
que investiga o outro no projeto
"BR 3", relacionando o bairro
paulistano de Brasilândia, a capital do país, Brasília, e a cidade de
Brasiléia, no Acre.
O evento é uma realização do
Consulado Geral da França em
SP, com apoio da Associação
Francesa para a Ação Artística.
GEOGRAFIA DO OUTRO - VERSÕES DO
TEATRO FRANCÊS CONTEMPORÂNEO.
Quando: hoje, às 13h, palestra do crítico
Yan Ciret no teatro-laboratório da ECA-USP (av. Prof. Luciano Gualberto, trav. J,
215, tel. 3091-4375). Às 21h, leitura de
trechos de "Pandora", de Jean-Christophe Bailly, com direção de
Georges Lavaudant e participação dos
atores Phillippe Morier-Genoud, Astrid
Bas, Paulo Autran, Elias Andreato e
Debora Duboc. Amanhã, às 21h,
apresentação de "Irmãos", resultado de
oficina de Moïse Touré, na Casa Número
1 (r. Roberto Simonsen, 136, tel. 3241-3132). A programação tem entrada
franca.
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