São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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"DOZE MOVIMENTOS PARA UM HOMEM SÓ"

Coreógrafo reúne parceiros antigos e novos em espetáculo investigativo

Violla dança entre o passado e o futuro

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

"...Se o meu caminho, sozinho, é nada...", diz a canção de Tom Jobim (com letra de Aloysio de Oliveira). "Inútil Paisagem" serve de trilha para um dos "Doze Movimentos para Um Homem Só", de J.C. Violla, que estreou no último dia 2, no Sesc Consolação. Poderia servir de epígrafe, também, para esse espetáculo reunindo oito coreógrafos convidados, entre nomes contemporâneos e antigos parceiros.
Aos 55 anos, absolutamente em forma, Violla é o intérprete único das várias linguagens que se sucedem em cena, numa sequência que não é só da dança, mas do teatro. A direção do espetáculo ficou a cargo de Naum Alves de Souza, que produziu com Violla, entre outros, "Petrouchka" e "Nijinsky" (coreografados por Célia Gouvea e relembrados aqui).
O primeiro encontro entre diretor e coreógrafo, na verdade, foi em "Falso Brilhante", mitológico show de Elis Regina; e algo de show (hoje mais próximo do maduro Ney Matogrosso do que de Elis) rege também os "Doze Movimentos" para esse homem, ao que se vê, nada só.
Filmes projetados na frente ou no fundo do palco trazem cenas do passado dançante de Violla. Atrás da tela surge o bailarino, numa dança lenta e acentuada. Em meio ao cenário -um quarto com muitas portas de saída, cadeiras no chão e nas paredes, com bonecos sentados-, Violla dança o solo criado por Roberto Ramos. No seu corpo, os vetores característicos da dança-de-chão de Ramos se suavizam e ganham novas dinâmicas.
O ponto alto da noite é quando Violla, usando toda a sua experiência, desliza pelo palco como num salão. Por exemplo, na coreografia de Adriana Grecchi para o "Samba da Bênção" (na versão de Bebel Gilberto): os acentos bem marcados das pernas e dos pés contrapõem-se ao controle macio do tronco e dos braços.
Por outro lado, não dá para não mencionar o que há de mais fraco, também, que é a dramaticidade gratuita. Só se justifica aceitando, sem reservas, a mais desbragada estética "kitsch gay". Como na cena com um bicho de pelúcia, em que Violla faz brincadeiras com a platéia, ou na cena dele deitado num banco, melancólico, ao som de "Inútil Paisagem"; ou ainda no arremesso das calças pela coxia, antes de dançar só de sunga. Será politicamente incorreto afirmar que a expressividade, nesses pontos, se deixa trair pelo clichê?
O espetáculo cita outras criações de Violla; e há várias cenas em que a imagem da projeção e da dança real fazem contraponto uma à outra. Na "Dança de Salão", por exemplo, com Violla sozinho "acompanhado" de sua saia de franjas ao fundo. Nas projeções, há espaço também para mostrar o que acontece nos bastidores, entre uma cena e outra.
A idéia é instigante -várias experiências de movimento num corpo só-, com apuro cênico e intérprete em grande estilo. Talvez canse um pouco, pela repetição do expediente. Mas o mínimo que se pode dizer é que a experimentação garante a continuidade e a relevância do trabalho de Violla, um bailarino que desde a década de 70 não cessou jamais de contribuir perspectivas novas à dança brasileira.

Doze Movimentos para Um Homem Só
   Com: J.C. Violla Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000) Quando: sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h; até 1º/9 Quanto: de R$ 15 a R$ 30

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