São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Texto de Ibsen inspira peça radical sobre o feminismo

Espetáculo atualiza "Casa de Bonecas" e propõe linguagem inovadora

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro depois do fim do drama. "E Agora, Nora?!" é um exercício típico da tendência corrente de discutir a realidade fora do esquadro dramático.
Sem buscar unidade de ação ou caracterização de personagens, constrói um híbrido de discurso afirmativo do feminino e justaposição de linguagens cênicas.
O ponto de partida é a releitura de uma das peças mais famosas do drama naturalista, "Casa de Bonecas", escrita em 1880 por Henrik Ibsen (1828-1906).
O texto provocou um escândalo na época por apresentar uma personagem, Nora, que ousava abandonar marido e filhos para enfrentar um futuro incerto. A criação da encenadora Joana Dória, e da Cia. Temporária de Investigação Cênica, não pretendeu estender o texto de Ibsen além do ponto em que o autor o deixou.
Sua intenção parece ser mais a de retornar ao texto na busca de pistas daquela personagem mítica para contrastá-las com as evidências atuais de uma mulher emancipada dos grilhões de outrora e problematizar essa suposta libertação. O método utilizado, fundado na recusa em desenvolver a ação dramática, foi remeter às rubricas de Ibsen reunindo todas as menções a Nora indicadas pelo autor.
Em torno desse eixo que emana da dramaturgia consagrada, o espetáculo orbita com soluções cênicas mais e menos felizes.
Como trunfos importantes, há uma preparação corporal séria, que aproxima o trabalho da dança, e momentos performáticos em que as três atrizes se colocam pessoalmente despidas de qualquer afetação. Mais problemáticas são as situações em que se enunciam frases colhidas na antologia do feminismo ou aquelas em que uma voz autoral sugere em tons poéticos uma redenção possível.
Em todos os casos, contudo, ressalta a abordagem radical em que se assume uma estrutura aberta, de colagem de partes autônomas.
Fiel à inquietação contemporânea que aspira a um teatro sem drama e lançando mão de recursos variados das artes performativas, o espetáculo sustenta uma leitura original de um texto datado, ironicamente revelando nele, aos olhos de hoje, potencialidades insuspeitas.


E AGORA, NORA?!

QUANDO qua. e qui., às 21h; até 26/8
ONDE teatro Augusta (r. Augusta, 943, tel. 3151-4141)
QUANTO R$ 25
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom




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