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CRÍTICA DRAMA
Texto de Ibsen inspira peça radical sobre o feminismo
Espetáculo atualiza "Casa de Bonecas" e propõe linguagem inovadora
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro depois do fim do
drama. "E Agora, Nora?!" é
um exercício típico da tendência corrente de discutir a
realidade fora do esquadro
dramático.
Sem buscar unidade de
ação ou caracterização de
personagens, constrói um híbrido de discurso afirmativo
do feminino e justaposição
de linguagens cênicas.
O ponto de partida é a releitura de uma das peças
mais famosas do drama naturalista, "Casa de Bonecas",
escrita em 1880 por Henrik
Ibsen (1828-1906).
O texto provocou um escândalo na época por apresentar uma personagem, Nora, que ousava abandonar
marido e filhos para enfrentar um futuro incerto.
A criação da encenadora
Joana Dória, e da Cia. Temporária de Investigação Cênica,
não pretendeu estender o
texto de Ibsen além do ponto
em que o autor o deixou.
Sua intenção parece ser
mais a de retornar ao texto na
busca de pistas daquela personagem mítica para contrastá-las com as evidências
atuais de uma mulher emancipada dos grilhões de outrora e problematizar essa suposta libertação.
O método utilizado, fundado na recusa em desenvolver a ação dramática, foi remeter às rubricas de Ibsen
reunindo todas as menções a
Nora indicadas pelo autor.
Em torno desse eixo que
emana da dramaturgia consagrada, o espetáculo orbita
com soluções cênicas mais e
menos felizes.
Como trunfos importantes, há uma preparação corporal séria, que aproxima o
trabalho da dança, e momentos performáticos em que as
três atrizes se colocam pessoalmente despidas de qualquer afetação.
Mais problemáticas são as
situações em que se enunciam frases colhidas na antologia do feminismo ou aquelas em que uma voz autoral
sugere em tons poéticos uma
redenção possível.
Em todos os casos, contudo, ressalta a abordagem radical em que se assume uma
estrutura aberta, de colagem
de partes autônomas.
Fiel à inquietação contemporânea que aspira a um teatro sem drama e lançando
mão de recursos variados das
artes performativas, o espetáculo sustenta uma leitura
original de um texto datado,
ironicamente revelando nele, aos olhos de hoje, potencialidades insuspeitas.
E AGORA, NORA?!
QUANDO qua. e qui., às 21h; até
26/8
ONDE teatro Augusta (r. Augusta,
943, tel. 3151-4141)
QUANTO R$ 25
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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