São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

Próximo Texto | Índice

TEATRO

Cia. Três de Sangue, com direção de Marco Antonio Rodrigues, monta "Blasted", primeiro espetáculo da inglesa

Peça junta os "estilhaços" de Sarah Kane

DA REPORTAGEM LOCAL

Qualquer hora este mundo vai explodir. Alguns estilhaços já são encontrados na dramaturgia de Sarah Kane (1971-99), cuja primeira peça, "Blasted" (algo como ruínas), ganha montagem do diretor Marco Antonio Rodrigues, com a cia. Três de Sangue.
Para quem já assistiu recentemente às montagens de "Ânsia", de Rubens Rusche, com a própria Três de Sangue, e "4:48 Psicose", do jornalista Nelson de Sá, colunista da Folha, "Blasted", título em inglês mantido pelo tradutor e ator Laerte Mello, é a peça mais política de Kane, segundo Rodrigues, ligado ao Folias d'Arte.
Cerca de dois anos atrás, Rodrigues assistiu a uma montagem polonesa do texto, apresentada em Berlim. Apesar de não entender a língua, saiu mobilizado pela história, que, depois, soube ser de autoria da mulher que cometeu suicídio aos 28 anos e, antes, bagunçou as convenções da linguagem dramatúrgica, legado que cativou autores renomados, como seus conterrâneos de velha guarda Harold Pinter e Edward Bond.
A ação se passa num hotel de luxo. A história de amor de Ian (interpretado por Mello), um jornalista quarentão, e Cate (Joana Mattei), sua jovem namorada suburbana, é literalmente invadida por um soldado (Nicolas Trevijano) que está com um rifle usado por francos-atiradores. A violência explode onde menos se espera. Seres humanos de qualquer lugar do mundo vivendo uma situação-limite descrita pela perturbadora imaginação de Kane.
"É o texto mais brechtiano dela", diz Rodrigues, 48, que identifica na obra a fábula do ponto de vista de um país periférico. "Aqui não tem aquela visão mais européia de uma sociedade que resolveu parte dos conflitos básicos de sobrevivência. Esse soldado é o iraquiano, o bósnio, mas também o miserável, o soldado do narcotráfico." Respondendo aos críticos que a acusavam de rebelde sem causa, Sarah Kane argumentou: "A violência em minha obra é repulsiva porque eu a apresento sem atrativos".
"O teatro não tem memória, o que o torna a mais existencial de todas as artes. É por isso que nunca deixo de voltar ao teatro, na esperança de que alguém, em algum lugar, naquela sala escura, me revele uma imagem que incendiará minha alma, deixando uma marca mais permanente do que o próprio momento", escreveu Kane. (VALMIR SANTOS)


BLASTED. De: Sarah Kane. Direção: Marco Antonio Rodrigues. Onde: teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa, tel. 3864-4513). Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 3/10. Quanto: R$ 10.


Próximo Texto: Estréia montagem de Kesselring
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.