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TEATRO
Cia. Três de Sangue, com direção de Marco Antonio Rodrigues, monta "Blasted", primeiro espetáculo da inglesa
Peça junta os "estilhaços" de Sarah Kane
DA REPORTAGEM LOCAL
Qualquer hora este mundo vai
explodir. Alguns estilhaços já são
encontrados na dramaturgia de
Sarah Kane (1971-99), cuja primeira peça, "Blasted" (algo como
ruínas), ganha montagem do diretor Marco Antonio Rodrigues,
com a cia. Três de Sangue.
Para quem já assistiu recentemente às montagens de "Ânsia",
de Rubens Rusche, com a própria
Três de Sangue, e "4:48 Psicose",
do jornalista Nelson de Sá, colunista da Folha, "Blasted", título
em inglês mantido pelo tradutor e
ator Laerte Mello, é a peça mais
política de Kane, segundo Rodrigues, ligado ao Folias d'Arte.
Cerca de dois anos atrás, Rodrigues assistiu a uma montagem
polonesa do texto, apresentada
em Berlim. Apesar de não entender a língua, saiu mobilizado pela
história, que, depois, soube ser de
autoria da mulher que cometeu
suicídio aos 28 anos e, antes, bagunçou as convenções da linguagem dramatúrgica, legado que cativou autores renomados, como
seus conterrâneos de velha guarda Harold Pinter e Edward Bond.
A ação se passa num hotel de luxo. A história de amor de Ian (interpretado por Mello), um jornalista quarentão, e Cate (Joana
Mattei), sua jovem namorada suburbana, é literalmente invadida
por um soldado (Nicolas Trevijano) que está com um rifle usado
por francos-atiradores. A violência explode onde menos se espera.
Seres humanos de qualquer lugar
do mundo vivendo uma situação-limite descrita pela perturbadora
imaginação de Kane.
"É o texto mais brechtiano dela", diz Rodrigues, 48, que identifica na obra a fábula do ponto de
vista de um país periférico. "Aqui
não tem aquela visão mais européia de uma sociedade que resolveu parte dos conflitos básicos de
sobrevivência. Esse soldado é o
iraquiano, o bósnio, mas também
o miserável, o soldado do narcotráfico." Respondendo aos críticos que a acusavam de rebelde
sem causa, Sarah Kane argumentou: "A violência em minha obra é
repulsiva porque eu a apresento
sem atrativos".
"O teatro não tem memória, o
que o torna a mais existencial de
todas as artes. É por isso que nunca deixo de voltar ao teatro, na esperança de que alguém, em algum
lugar, naquela sala escura, me revele uma imagem que incendiará
minha alma, deixando uma marca mais permanente do que o próprio momento", escreveu Kane.
(VALMIR SANTOS)
BLASTED. De: Sarah Kane. Direção:
Marco Antonio Rodrigues. Onde: teatro
Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa, tel.
3864-4513). Quando: estréia amanhã, às
21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h;
até 3/10. Quanto: R$ 10.
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