São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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MOSTRA
A Sala Cinemateca Folha promove evento que reúne trabalhos da geração recente de cineastas da França
Novíssimo cinema francês chega a SP

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

O novo cinema francês está em São Paulo. Ou melhor, o novíssimo. A Sala Cinemateca Folha promove a mostra "Jovem Cinema Francês", com os filmes de estréia de cineastas franceses, produzidos em 1995 e 1996.
Esse ciclo tem algo de diferente em relação aos outros promovidos pela mesma Cinemateca. No lançamento de hoje, na "Grande Noitada do Jovem Cinema Francês", serão passados os cinco filmes programados.
É uma boa chance de "matar" todas as obras num dia só. Para isso, o espectador terá de ficar das 19h até às 3h50 de domingo.
Os filmes
"Inventário", filme de Jean-François Richet rodado em 95, conta a história de um rapaz do subúrbio refratário à capital, ao centro de Paris.
Ele faz parte de uma minoria que rejeita a idéia de, diariamente, sair de suas casas e atravessar a cidade para trabalhar no centro.
O personagem Pierre Cephas, consciente de sua condição social, enfrenta a polícia e os patrões. Seu refúgio são os amigos e a família.
Esse aspecto é o que diferencia este filme de "O Ódio", também em preto-e-branco.
Mais radical no discurso, o filme de Mathieu Kassovitz é violento sem perder a contundência.
Já a diretora Christine Carrière apoiou-se no retrato estritamente psicológico de seus personagens em "Rosine", de 1995.
A menina do título tem uma forte ligação com sua mãe. A volta de seu pai para casa, após anos de ausência, desequilibra a relação entre elas.
Ele tenta reconquistar mulher e filha, mas não consegue, tamanha a ligação entre as duas.
E "Esqueça-Me" (1995), de Noémie Lvovsky, é um filme sobre os desajustes humanos, em que uma jovem é apaixonada por um homem que a despreza.
Outra pessoa, interessada nela, recebe como resposta seu desprezo.
A obra fala de muitas outras pessoas, todas inseguras, solitárias e infelizes. E tudo redunda em brigas.
Anne Fontaine está representada com "Augustin" (1995). Seria interessante, também, mostrar seu "Lavagem a Seco" (1997), que ganhou o prêmio de melhor roteiro no 54º Festival de Veneza.
Augustin é um benevolente cidadão francês, que ajuda a todos. Tímido, um dia recebe convite para trabalhar num filme.
"A Idade do Possível" é o único filme de 96. Pascale Ferran, revelação em Cannes, conta a história de dez rapazes e moças, suas desilusões, amores, trabalho e política, mas também falta de convicção. Tema bem em voga neste cinema francês atual.
Herança
O espectador pode fazer uma análise de como anda o cinema francês. Talvez seja difícil definir qual sua linha estilística e narrativa, mas é evidente que este novo cinema francês ainda luta contra o cinema comercial ao estilo Hollywood ao mesmo tempo em que procura a herança da nouvelle vague de François Truffaut, Jean-Luc Godard e Alain Resnais.
Fica no meio do caminho e isso, por vezes, afasta o público, temeroso de uma narrativa "cinemanovista", "difícil" e que opta pelo cinemão americano. A mostra da Cinemateca pode evidenciar um pouco a proposta deste cinema.



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