|
Próximo Texto | Índice
TEATRO
"Sobre o Amor e a Amizade", que reúne textos do escritor, estréia concretizando projeto de pessoas ligadas a ele
Amigos encenam Caio Fernando Abreu
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
Nem todos os envolvidos conheceram Caio Fernando Abreu
-caso do diretor William Pereira. Quase toda a ficha técnica de
"Sobre o Amor e a Amizade", que
estréia hoje no Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB) para o
público, entretanto, nutre pelo escritor gaúcho, morto em 96, ao
menos a lembrança do segundo
sentimento do título.
Para a realização do espetáculo,
idéia antiga, uma costura de quatro contos e uma crônica entremeada por poesias e trechos inéditos, reuniram-se os atores Grace Gianoukas (que fez o roteiro) e
Jairo Mattos. Pereira foi chamado
a posteriori. Gil Veloso, que foi assistente do autor por cerca de dez
anos, auxiliou na pesquisa.
E mais amigos somaram-se.
Guto Lacaz faz o cenário. A cantora Laura Finnochiaro afetuosamente aporta a trilha sonora.
No palco, os textos ganham
consistência cênica com a presença de um escritor (encarnado por
Jairo Mattos, não representando
necessariamente Abreu) e sua
personagem, por Gianoukas.
Num dos contos, "Creme de Alface", uma mulher de vida apagada,
a caminho do crediário, vê um
cartaz de cinema e se permite um
instante de arrebatamento.
Universo de esquecidos, de sensuais e de medianos, a obra de
Caio Fernando Abreu, para William Pereira, 39, toca-o pela sondagem humana. "Tem a ver com
a função do teatro, a meu ver, que
é a de fazer gente gostar de gente."
"O espaço -nem chamo de cenário- é composto por mesas,
cadeiras, um armário, tudo monocromático, para que o foco seja
a palavra", afirma o diretor, sobre
a convivência de criador e criatura em cena. Ao lugar, agregam-se
objetos pessoais de Abreu: uma
garrafa de uísque, um cinzeiro.
Entre outras "raridades", está a
voz em off do autor lendo "A Dama da Noite", tirada de uma entrevista a uma rádio alemã.
Gianoukas, 38, acalentava o intento de fazer um espetáculo que
tratasse de amor e de amizade
desde 95. "Tentei escrever, mas ficava pequeno. Falei com o Caio se
podia usar uns contos. Ele adaptou "Os Dragões Não Conhecem o
Paraíso". Adaptamos a quatro
mãos "Os Sapatinhos Vermelhos".
Para os outros, pois ele já estava
doente, deu sugestões."
Ambos gaúchos, Abreu e a atriz
chegaram a dividir moradia em
São Paulo. "Mas não tivemos um
caso, fomos "roomates'", brinca a
artista. Ela crê que o conterrâneo
tem sido muito montado como
marginal, autor que levanta a
bandeira do homossexualismo.
"E não é só isso, transcende."
Jairo Mattos, 40, outro natural
do Rio Grande do Sul, também ligado ao projeto desde as fases especulativas, vê na extração poética que Abreu faz do cotidiano espaço também para o humor. "Ele
chega no limite do patético e isso
termina numa coisa muito engraçada. E não é proposital, é que ele
lida bem com isso", afirma.
Anteontem, ocorreu a apresentação para convidados que, aliás,
poderia ter assumido ares de festa
surpresa. Na quinta-feira, Abreu
faria 53 anos. "Foi pura coincidência", disse Gianoukas, pouco
antes de entrar em cena.
SOBRE O AMOR E A AMIZADE. Textos:
Caio Fernando Abreu. Roteiro: Grace
Gianoukas. Direção: William Pereira.
Com: Grace Gianoukas e Jairo Mattos.
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112,
região central, tel. 3113-3651). Quando:
de qui. a dom., às 19h; até 20/10. Quanto:
R$ 7 e R$ 15. Patrocínio: Banco do Brasil.
Próximo Texto: Erudito: Thedéen nos leva para o que não é possível Índice
|