São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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TEATRO

"Sobre o Amor e a Amizade", que reúne textos do escritor, estréia concretizando projeto de pessoas ligadas a ele

Amigos encenam Caio Fernando Abreu

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Nem todos os envolvidos conheceram Caio Fernando Abreu -caso do diretor William Pereira. Quase toda a ficha técnica de "Sobre o Amor e a Amizade", que estréia hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para o público, entretanto, nutre pelo escritor gaúcho, morto em 96, ao menos a lembrança do segundo sentimento do título.
Para a realização do espetáculo, idéia antiga, uma costura de quatro contos e uma crônica entremeada por poesias e trechos inéditos, reuniram-se os atores Grace Gianoukas (que fez o roteiro) e Jairo Mattos. Pereira foi chamado a posteriori. Gil Veloso, que foi assistente do autor por cerca de dez anos, auxiliou na pesquisa.
E mais amigos somaram-se. Guto Lacaz faz o cenário. A cantora Laura Finnochiaro afetuosamente aporta a trilha sonora.
No palco, os textos ganham consistência cênica com a presença de um escritor (encarnado por Jairo Mattos, não representando necessariamente Abreu) e sua personagem, por Gianoukas. Num dos contos, "Creme de Alface", uma mulher de vida apagada, a caminho do crediário, vê um cartaz de cinema e se permite um instante de arrebatamento.
Universo de esquecidos, de sensuais e de medianos, a obra de Caio Fernando Abreu, para William Pereira, 39, toca-o pela sondagem humana. "Tem a ver com a função do teatro, a meu ver, que é a de fazer gente gostar de gente."
"O espaço -nem chamo de cenário- é composto por mesas, cadeiras, um armário, tudo monocromático, para que o foco seja a palavra", afirma o diretor, sobre a convivência de criador e criatura em cena. Ao lugar, agregam-se objetos pessoais de Abreu: uma garrafa de uísque, um cinzeiro.
Entre outras "raridades", está a voz em off do autor lendo "A Dama da Noite", tirada de uma entrevista a uma rádio alemã.
Gianoukas, 38, acalentava o intento de fazer um espetáculo que tratasse de amor e de amizade desde 95. "Tentei escrever, mas ficava pequeno. Falei com o Caio se podia usar uns contos. Ele adaptou "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso". Adaptamos a quatro mãos "Os Sapatinhos Vermelhos". Para os outros, pois ele já estava doente, deu sugestões."
Ambos gaúchos, Abreu e a atriz chegaram a dividir moradia em São Paulo. "Mas não tivemos um caso, fomos "roomates'", brinca a artista. Ela crê que o conterrâneo tem sido muito montado como marginal, autor que levanta a bandeira do homossexualismo. "E não é só isso, transcende."
Jairo Mattos, 40, outro natural do Rio Grande do Sul, também ligado ao projeto desde as fases especulativas, vê na extração poética que Abreu faz do cotidiano espaço também para o humor. "Ele chega no limite do patético e isso termina numa coisa muito engraçada. E não é proposital, é que ele lida bem com isso", afirma.
Anteontem, ocorreu a apresentação para convidados que, aliás, poderia ter assumido ares de festa surpresa. Na quinta-feira, Abreu faria 53 anos. "Foi pura coincidência", disse Gianoukas, pouco antes de entrar em cena.


SOBRE O AMOR E A AMIZADE. Textos: Caio Fernando Abreu. Roteiro: Grace Gianoukas. Direção: William Pereira. Com: Grace Gianoukas e Jairo Mattos. Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, região central, tel. 3113-3651). Quando: de qui. a dom., às 19h; até 20/10. Quanto: R$ 7 e R$ 15. Patrocínio: Banco do Brasil.



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