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ERUDITO
Violoncelista sueco faz mais uma apresentação hoje à tarde com a Osesp, regida pelo maestro Sergiu Comissiona
Thedéen nos leva para o que não é possível
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Acontece: não é sempre,
não é previsível, mas a música acontece. No final do último
movimento do "Concerto para
Violoncelo" de Elgar (1857-1934),
por exemplo. Tudo cai, as linhas
despencam corda abaixo, e, de
novo, e cada vez mais fundo, numa elegia infinita, que leva a gente
para dentro do que não é possível,
entendimentos de vida e de morte
que resumem tudo. O coração fica grande, depois minúsculo. Foi
assim, mais uma vez, quinta, escutando o violoncelista sueco
Torleif Thedéen com a Osesp.
Thedéen já gravou esse concerto, com a Sinfônica de Malmö (selo BIS). Ao vivo, exibe a mesma
expressiva reticência, certa discrição que ajuda a música a não se
desmanchar na exuberância.
Nem todos os harmônicos, nem
todas aquelas notas agudíssimas,
na primeira corda, chegaram exatamente aonde precisavam chegar; mas isso, na música, também
acontece. E não diminui o que importa, que vai muito além de notas certas ou erradas.
Especialmente bem acompanhado pela Osesp, especialmente
bem regida pelo maestro convidado Sergiu Comissiona, Thedéen foi manso no moto perpétuo
do segundo movimento, e caloroso no "Adagio". Mas o "Concerto" vive mesmo do início -uma
cadência, de cara, para o violoncelo sozinho- e do fim, quando a
cadência volta, depois que tudo já
foi dito, na única língua em que é
possível dizer alguma coisa.
Depois disso, o quê? Só Bach,
mesmo, a "Bourrée" da "Suíte nš
3", que Thedéen tocou lindamente, contrastando ao máximo a
"Bourrée II" (lenta, distante) da
primeira (fluente, aberta).
Natural que a orquestra soasse
inspirada. Tanto mais regida pelo
maestro Comissiona, um desses
senhores tão à vontade no pódio
que se tornam a própria música,
sem fazer alarde. Fez a Osesp tocar com um som diferente, notável especialmente nas cordas.
Fortíssimos sem freios, na superplurimegahiperorganística "Sinfonia" de César Franck (1822-90).
Nota festiva: o grande bolo pintado que desceu no palco, sob os
acordes de um "Parabéns a Você"
desabusado nos metais, para comemorar cinco anos do primeiro
concerto da nova Osesp, regida
por John Neschling, ainda no Memorial. Cinco anos! Quase nada.
E quase tudo.
Osesp
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
s/nš, centro, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 16h30
Quanto: de R$ 12 a R$ 36
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