São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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ERUDITO

Violoncelista sueco faz mais uma apresentação hoje à tarde com a Osesp, regida pelo maestro Sergiu Comissiona

Thedéen nos leva para o que não é possível

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Acontece: não é sempre, não é previsível, mas a música acontece. No final do último movimento do "Concerto para Violoncelo" de Elgar (1857-1934), por exemplo. Tudo cai, as linhas despencam corda abaixo, e, de novo, e cada vez mais fundo, numa elegia infinita, que leva a gente para dentro do que não é possível, entendimentos de vida e de morte que resumem tudo. O coração fica grande, depois minúsculo. Foi assim, mais uma vez, quinta, escutando o violoncelista sueco Torleif Thedéen com a Osesp.
Thedéen já gravou esse concerto, com a Sinfônica de Malmö (selo BIS). Ao vivo, exibe a mesma expressiva reticência, certa discrição que ajuda a música a não se desmanchar na exuberância. Nem todos os harmônicos, nem todas aquelas notas agudíssimas, na primeira corda, chegaram exatamente aonde precisavam chegar; mas isso, na música, também acontece. E não diminui o que importa, que vai muito além de notas certas ou erradas.
Especialmente bem acompanhado pela Osesp, especialmente bem regida pelo maestro convidado Sergiu Comissiona, Thedéen foi manso no moto perpétuo do segundo movimento, e caloroso no "Adagio". Mas o "Concerto" vive mesmo do início -uma cadência, de cara, para o violoncelo sozinho- e do fim, quando a cadência volta, depois que tudo já foi dito, na única língua em que é possível dizer alguma coisa.
Depois disso, o quê? Só Bach, mesmo, a "Bourrée" da "Suíte nš 3", que Thedéen tocou lindamente, contrastando ao máximo a "Bourrée II" (lenta, distante) da primeira (fluente, aberta).
Natural que a orquestra soasse inspirada. Tanto mais regida pelo maestro Comissiona, um desses senhores tão à vontade no pódio que se tornam a própria música, sem fazer alarde. Fez a Osesp tocar com um som diferente, notável especialmente nas cordas. Fortíssimos sem freios, na superplurimegahiperorganística "Sinfonia" de César Franck (1822-90).
Nota festiva: o grande bolo pintado que desceu no palco, sob os acordes de um "Parabéns a Você" desabusado nos metais, para comemorar cinco anos do primeiro concerto da nova Osesp, regida por John Neschling, ainda no Memorial. Cinco anos! Quase nada. E quase tudo.


Osesp     
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, centro, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 16h30
Quanto: de R$ 12 a R$ 36




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