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Crítica
Livro expõe via dolorosa da punição divina
ALCIR PÉCORA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O Grande Jogo de
Billy Phelan" trata
dos eventos passados entre a madrugada de uma
quinta-feira de outubro de 1938
e a madrugada do domingo seguinte, isto é, entre a fabulosa
partida de boliche na qual Billy
faz 299 pontos de 300 possíveis
e o fim do sequestro do filho de
um dos McCall, poderosa família irlandesa que controlava
tanto o partido democrata como o submundo de Albany.
Perambulando entre os dois
polos -as partidas emocionantes travadas na vagabundagem
e as trapaças armadas entre os
McCall, os democratas e a Igreja Católica-, está o jornalista
cinquentão Martin Daugherty,
jornalista do "Times-Union",
onde trabalhou o próprio Kennedy. É a personagem mais
complexa, responsável por interpretar a vitória individual de
Billy como uma vitória da generosidade, da lealdade e do caráter -vale dizer, do jogo limpo-
sobre todos os infortúnios que
se abatem sobre a existência,
em larga medida herdados de
contingências ancestrais.
A solução seria apenas ingênua, não fosse, antes, uma forma de expor as vias dolorosas
pelas quais a ordem política e
social, como a ordem paterna e
divina, escolhe aleatoriamente
os seus cordeiros sacrificiais, os
que vão pagar com a vida as
contas deixadas em aberto.
ALCIR PÉCORA é professor de teoria literária na
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O GRANDE JOGO
DE BILLY PHELAN
Autor: William Kennedy
Tradução: Sergio Flaksman
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 55 (344 págs.)
Avaliação: bom
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