São Paulo, terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

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Crítica

Livro expõe via dolorosa da punição divina

ALCIR PÉCORA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Grande Jogo de Billy Phelan" trata dos eventos passados entre a madrugada de uma quinta-feira de outubro de 1938 e a madrugada do domingo seguinte, isto é, entre a fabulosa partida de boliche na qual Billy faz 299 pontos de 300 possíveis e o fim do sequestro do filho de um dos McCall, poderosa família irlandesa que controlava tanto o partido democrata como o submundo de Albany.
Perambulando entre os dois polos -as partidas emocionantes travadas na vagabundagem e as trapaças armadas entre os McCall, os democratas e a Igreja Católica-, está o jornalista cinquentão Martin Daugherty, jornalista do "Times-Union", onde trabalhou o próprio Kennedy. É a personagem mais complexa, responsável por interpretar a vitória individual de Billy como uma vitória da generosidade, da lealdade e do caráter -vale dizer, do jogo limpo- sobre todos os infortúnios que se abatem sobre a existência, em larga medida herdados de contingências ancestrais.
A solução seria apenas ingênua, não fosse, antes, uma forma de expor as vias dolorosas pelas quais a ordem política e social, como a ordem paterna e divina, escolhe aleatoriamente os seus cordeiros sacrificiais, os que vão pagar com a vida as contas deixadas em aberto.

ALCIR PÉCORA é professor de teoria literária na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).


O GRANDE JOGO DE BILLY PHELAN

Autor: William Kennedy
Tradução: Sergio Flaksman
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 55 (344 págs.)
Avaliação: bom




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