São Paulo, sábado, 16 de maio de 2009

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Livro de Mia Couto é adaptado para o palco

Fábrica São Paulo encena peça baseada na história de "O Outro Pé da Sereia"

"Acredito que o grupo tenha avançado para algo bem diverso. Quanto mais eles tenham voado melhor", diz o romancista moçambicano


GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O premiado romance "O Outro Pé da Sereia", do moçambicano Mia Couto, ganha corpo e alma brasileiros no espetáculo homônimo da Cia. Fábrica São Paulo, que traz músicas inéditas de Chico César, em cartaz a partir de hoje no Sesc Paulista.
"Acredito que o grupo tenha avançado para algo bem diverso do que fiz. Quanto mais eles tenham voado melhor", diz o escritor. A companhia paulista, de fato, apropria-se deste texto que ficcionaliza dois tempos conflituosos de Moçambique, o da colonização, com a primeira incursão católica dos portugueses no país, e o atual, por meio da história de retorno de uma refugiada à sua cidade natal, modificada pela guerra civil.
A companhia seguiu o conselho de Couto para que o trabalho tivesse a voz do grupo. Transformou os dois protagonistas do livro em um, expandiu a discussão de questões caras ao Brasil, como o racismo, e apenas sugeriu a mudança de cor do personagem Antunes, padre católico que vira negro ao se identificar com valores da cultura africana.
O escritor moçambicano se aproximou do teatro há 15 anos, quando participou da formação do primeiro grupo profissional de seu país. Utiliza-se dessa arte para "descobrir formas de encontrar maior intimidade com a palavra e o próprio percurso literário".
Roberto Rosa, diretor da Fábrica São Paulo desde sua formação, há 27 anos, usa-a como instrumento para lapidar o homem. "Tento dar qualidade ao humano", diz. Apoiado em reflexões do psicólogo russo Lev Semionovich Vigotski (1896-1934), entre outros teóricos, durante dois anos Rosa pesquisou o trabalho do ator a partir do elemento da memória.
Segundo conta, o elenco fez exercícios de memória com elementos do inconsciente, relembrando as próprias histórias passadas. "Os atores entenderam a importância do tempo de reação e a profundidade de certas questões", afirma Rosa.
q O grupo procurava uma obra para aplicar seus estudos. "O Outro Pé da Sereia" revelou-se ideal. "Mia joga nesse livro seu olhar agudo sobre como o passado está presente no tempo atual", diz o dramaturgo responsável pela adaptação Fábio Salem. "Encontramos justamente a chave da nossa pesquisa", completa Rosa.


O OUTRO PÉ DA SEREIA
Quando:
estreia hoje às 21h; sex. a dom., às 21h; até 28/6
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 3179-3700)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação: não recomendado para menores de 14 anos



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