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Livro de Mia Couto é adaptado para o palco
Fábrica São Paulo encena peça baseada na história de "O Outro Pé da Sereia"
"Acredito que o grupo tenha avançado para algo bem diverso. Quanto mais eles tenham voado melhor", diz o romancista moçambicano
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O premiado romance "O Outro Pé da Sereia", do moçambicano Mia Couto, ganha corpo e
alma brasileiros no espetáculo
homônimo da Cia. Fábrica São
Paulo, que traz músicas inéditas de Chico César, em cartaz a
partir de hoje no Sesc Paulista.
"Acredito que o grupo tenha
avançado para algo bem diverso do que fiz. Quanto mais eles
tenham voado melhor", diz o
escritor. A companhia paulista,
de fato, apropria-se deste texto
que ficcionaliza dois tempos
conflituosos de Moçambique, o
da colonização, com a primeira
incursão católica dos portugueses no país, e o atual, por meio
da história de retorno de uma
refugiada à sua cidade natal,
modificada pela guerra civil.
A companhia seguiu o conselho de Couto para que o trabalho tivesse a voz do grupo.
Transformou os dois protagonistas do livro em um, expandiu a discussão de questões caras ao Brasil, como o racismo, e
apenas sugeriu a mudança de
cor do personagem Antunes,
padre católico que vira negro ao
se identificar com valores da
cultura africana.
O escritor moçambicano se
aproximou do teatro há 15
anos, quando participou da formação do primeiro grupo profissional de seu país. Utiliza-se
dessa arte para "descobrir formas de encontrar maior intimidade com a palavra e o próprio
percurso literário".
Roberto Rosa, diretor da Fábrica São Paulo desde sua formação, há 27 anos, usa-a como
instrumento para lapidar o homem. "Tento dar qualidade ao
humano", diz. Apoiado em reflexões do psicólogo russo Lev
Semionovich Vigotski (1896-1934), entre outros teóricos,
durante dois anos Rosa pesquisou o trabalho do ator a partir
do elemento da memória.
Segundo conta, o elenco fez
exercícios de memória com elementos do inconsciente, relembrando as próprias histórias passadas. "Os atores entenderam a importância do tempo
de reação e a profundidade de
certas questões", afirma Rosa.
q
O grupo procurava uma obra
para aplicar seus estudos. "O
Outro Pé da Sereia" revelou-se
ideal. "Mia joga nesse livro seu
olhar agudo sobre como o passado está presente no tempo
atual", diz o dramaturgo responsável pela adaptação Fábio
Salem. "Encontramos justamente a chave da nossa pesquisa", completa Rosa.
O OUTRO PÉ DA SEREIA
Quando: estreia hoje às 21h; sex. a
dom., às 21h; até 28/6
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista,
119, tel. 3179-3700)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
Classificação: não recomendado para menores de 14 anos
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