São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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DANÇA

Peça mostra tradição indiana

Odissi expõe filosofia através do movimento

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Estréia hoje "Odissi - Dança Tradicional Indiana", com a bailarina Sharon Lowen, no teatro Augusta. Profano e divino estão lado a lado na cena, onde expressão dramática e movimento se combinam, "deixando vir à tona uma consciência espiritual que permite surgirem verdades acessíveis a todos", como disse Lowen em entrevista exclusiva à Folha.
Nessa visita à cidade, além do espetáculo, a bailarina Lowen dará uma palestra-demonstração dos estilos indianos odissi, manipuri e chhau e alguns workshops.
Lowen, nascida nos Estados Unidos em 1949, está hoje radicada na Índia. Estudou dança clássica e moderna e iniciou seus estudos de dança manipuri em 1969 nos EUA. Depois de concluir o mestrado na Universidade de Michigan, continuou seus estudos em Delhi. Em 1975, começou a estudar odissi com o guru Vibhushan Padma Kelucharam Mohapatra e Chhau com o guru Krishna Chandra Naik. Sua vida foi tema do filme "Swarna Kamalam" ("Lótus de Ouro", 1998) e a Central Television inglesa fez um documentário sobre sua vida: "Odyssey in Odissi".
Lowen segue a tradição de Kelucharam Mohapatra: "Como em todas as artes, o essencial é o contexto e não a forma; mas é a forma que nos permite atingir a essência. A dança expõe uma filosofia através do corpo e suas possibilidades de expressão".
Aqui, o espetáculo divide-se em cinco partes, com coreografias da própria Lowen e de Mohapatra, alternando danças narrativas com danças "puras". Serão somente danças do estilo odissi, pois "é necessário criar uma unidade". No odissi, "você tem a figura de um S. A posição triangular básica é caracterizada por três curvas fundamentais: do pescoço, do torso e do joelho. Explora-se a suavidade no torso e muitas expressões de rosto. O pé bate no chão, integrado à música".
Há toda uma simbologia nos trajes e nas pinturas corporais: "O olho deve ter formato de peixe, que é um símbolo de beleza. A mão pode ser pintada somente de vermelho, como uma flor etc. O vermelho é uma cor auspiciosa -é a vida, o sangue- e facilita a visualização dos movimentos".
O espetáculo abre com "Padma Patra Mangalacharam", uma homenagem a Jagannath, "senhor do universo e a personificação da paz"; depois vem "Kumara Sambhavanam", interpretação rítmica e visual do poema de Kalidas (séc. 2 a.C.) que descreve o casamento de Shiva com Parvati. "Taranga Pallavi" é uma peça do ritmo, da melodia e do movimento; "Sakhi He Mathanam Udaram" interpreta o poema sânscrito "Geeta Govinda", do poeta Jayadeva (séc. 12), no qual o amor é usado como metáfora para a compreensão do divino.
Para finalizar, "Moksha", que trabalha a união intelectual e espiritual, a morte e o renascimento. Temas clássicos das danças da Índia, que vivem não da constante novidade, mas da iluminada variação da constância.


ODISSI - DANÇA TRADICIONAL INDIANA. Onde: teatro Augusta (r. Augusta, 943, tel. 3151-4141). Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto: de R$ 10 a R$ 20. Workshop: dias 18 e 19/6, no Prema - Yoga e Dança Indiana (r. Maria Figueiredo, 189, tel. 3283-0884). Palestra demonstração: 21/6, às 15h30, na Universidade Anhembi Morumbi (r. Casa do Ator, 275, tel. 3847-3175).


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