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ARTES PLÁSTICAS
Exposição no Itaú Cultural põe a obra de três veteranos como contraponto à produção contemporânea
Trabalhos empobrecem a idéia da tecnologia
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Técnicos montam a instalação "Acaso 30", de Gilberto Prado, parte da mostra "Cinético-Digital" |
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
É bastante reconhecida a
importância dos artistas Julio
Plaza (1938-2003), Waldemar
Cordeiro (1925-1973) e Abraham
Palatnik, 77, na interface entre arte e tecnologia, no Brasil. Cada
um a seu modo, eles realizaram
obras que trouxeram avanços tecnológicos para o campo da arte,
sem, no entanto, se renderem a
eles. Pelo contrário, os seus trabalhos questionaram os meios, buscando desmistificar a tecnologia.
É emblemático, nesse contexto,
"Retrato de Fabiana", que Cordeiro criou como algumas das primeiras imagens digitais no país.
Aí, tonalidades de cores foram codificadas por símbolos e transcritas no papel, pura desconstrução
da linguagem computacional.
Por isso, não deixa de ser surpreendente o contraponto entre
esses três artistas e a produção
atual, tal qual pode ser vista na
mostra "Cinético Digital", no Itaú
Cultural, com curadoria de Monica Tavares e Suzete Venturelli.
A cada um dos veteranos foi selecionado um tema: instalação
para Palatnik, arte computacional
para Cordeiro e arte nas redes
(webarte) para Plaza. Em cada tema, foram agrupados trabalhos,
em sua maioria recentes.
Há um deslize conceitual já na
primeira sala, pois nomear os
"Objetos Cinéticos" como instalação não deixa de ser uma forçação. Os "Objetos Cinéticos" são
quadros em movimento que não
buscam envolver o observador,
como o fazem as instalações.
A questão central é que, enquanto os veteranos buscavam
problematizar o uso da tecnologia, ao mesmo tempo que ampliavam seus limites, o que se vê na
produção recente em "Cinético
Digital" é um certo deslumbre
com a tecnologia que, em certos
trabalhos, fica mesmo empobrecida perto do desenvolvimento
atual dessa tecnologia no cinema,
nos videogames ou no próprio
cotidiano. É o caso de "Reflexão
2", de Raquel Kogan, que simula
os números que escorrem no filme "Matrix", mas no cinema o
efeito é muito mais vigoroso.
Pior é quando trabalhos buscam mesclar interação, tecnologia
e questão social, como em "Acaso
30", de Gilberto Prado. O trabalho
visa prestar homenagem às vitimas da chacina na Baixada Fluminense, em março passado, mas
na realização banaliza a temática.
O mesmo ocorre com "Você
Tem Fome de quê?", de Rejane
Spitz, no segmento de arte computacional. Para que a obra aconteça é preciso pegar uma bandeja,
colocá-la ao lado de um computador e passar com um mouse sobre
uma imagem com várias letras,
chegando-se a depoimentos absolutamente banais. É mais um
exemplo do deslumbre pela tecnologia de grande parte dos artistas na mostra, e não do uso crítico, como o faziam os veteranos.
Nesse caso, como em vários outros da mostra, a interação é apenas um padrão de conduta a ser
cumprido, mas os resultados ficam aquém da parafernália.
O Itaú Cultural tem entre suas
missões estimular a visibilidade
da arte e tecnologia, e é importante que tal espaço continue sendo
oferecido. Entretanto, segundo a
mostra "Cinético Digital" , ou a
pesquisa das curadoras não conseguiu reunir o que há de mais
significativo ou a produção contemporânea precisa olhar melhor
os veteranos, o que, no caso desta
exposição, já é uma tentativa.
Cinético-Digital
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149,
Bela Vista, tel. 0/xx/11/2168-1776)
Quando: de ter. a sex., das 10h às 21h;
sáb. e dom., das 10h às 19h; até 11/9
Quanto: entrada franca
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