São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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Folias usa armadilha sedutora para fazer refletir em "O Banho"

DA REPORTAGEM LOCAL

Há sete anos, cinco deles em sua sede, um galpão em Santa Cecília, o grupo Folias d'Arte empenha-se numa pesquisa à parte em torno da arte da representação. Não à toa alugou um anexo, na mesma rua Ana Cintra, só para encontros, aulas e workshop. E alguns dos seus integrantes já participaram de intercâmbio com a Escola Superior de Coimbra, em Portugal, e com a Academia Russa de Arte Teatral, em Moscou.
"O Banho", espetáculo que estréia hoje, vem somar veredas da interpretação aos projetos que consolidaram o nome do grupo, como a premiada montagem recente de "Otelo", de Shakespeare.
O dramaturgo Reinaldo Maia, que costuma revezar a direção com nomes como Marco Antonio Rodrigues ("Otelo") e Dagoberto Feliz ("Nada Mais Foi Dito Nem Perguntado"), também assina a função aqui.
Maia vê desafios para as duas atrizes de "O Banho", Gisele Arantes e Heloisa Maria. A começar pela sofisticação aparente do texto, um dado novo numa dramaturgia circunscrita normalmente aos personagens das classes menos favorecidas (vide "Babilônia", espécie de crônica anunciada da tragédia dos moradores de rua no centro paulistano).
A relação da patroa Sofia (Arantes) e da empregada Benedita (Maria) pode sugerir, num primeiro momento, um enésimo recorte sobre o universo feminino, reforçado pelo programa da peça, que estampa o dorso nu de uma das atrizes em meio a rosas.
"Uma armadilha", diz Maia, 52. Ele toma cuidado em não expor a trama no jornal e tampouco para o espectador, que deve notar outras camadas da história, ainda que uma banheira em cena possa seduzi-lo de outra forma.
"O texto reflete uma série de assuntos que não sai de moda, num país que não tem uma transformação social, no qual as pessoas são manipuladas conforme o jogo de classes", diz Maia.
"Convidamos o público para um banho. Não um banho que apenas reitere o hábito cotidiano da higiene pessoal que, inconscientemente, repetimos a vida toda, mas um banho que nos revele as diferentes "personas" que grudam em nossa pele durante a nossa existência", deixa a pista um trecho do convite da peça.
Através dessas duas mulheres, a patroa e a empregada, confundem-se as fantasia de classes, a inversão do público e do privado que, segundo o autor, atinge até o atual panorama político do país.
"O Banho", diz Maia, tangencia essas questões pelo ângulo de Sofia e Benedita na tentativa de extrair reflexão. "Um teatro para suportar o teatro da vida."
A estréia coincide com o lançamento do sexto número do "Caderno do Folias" (73 págs., R$ 10), publicação do grupo que traz o texto de "O Banho", além de artigos do cenógrafo Ulisses Cohn e da professora de teoria literária da USP Iná Camargo Costa, entre outros. (VS)


O BANHO. Texto e direção: Reinaldo Maia. Cenografia: Ulisses Cohn. Figurinos: Adriana Chung. Com: Gisele Arantes e Heloisa Maria. Onde: Galpão do Folias (r. Ana Cintra, 213, tel. 3361-2223). Quando: estréia hoje, às 20h; qui. e sex., às 20h; sáb., às 21h; e dom., às 19h. Quanto: R$ 20. Até 30/10.


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