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Folias usa armadilha sedutora para fazer refletir em "O Banho"
DA REPORTAGEM LOCAL
Há sete anos, cinco deles em sua
sede, um galpão em Santa Cecília,
o grupo Folias d'Arte empenha-se
numa pesquisa à parte em torno
da arte da representação. Não à
toa alugou um anexo, na mesma
rua Ana Cintra, só para encontros, aulas e workshop. E alguns
dos seus integrantes já participaram de intercâmbio com a Escola
Superior de Coimbra, em Portugal, e com a Academia Russa de
Arte Teatral, em Moscou.
"O Banho", espetáculo que estréia hoje, vem somar veredas da
interpretação aos projetos que
consolidaram o nome do grupo,
como a premiada montagem recente de "Otelo", de Shakespeare.
O dramaturgo Reinaldo Maia,
que costuma revezar a direção
com nomes como Marco Antonio
Rodrigues ("Otelo") e Dagoberto
Feliz ("Nada Mais Foi Dito Nem
Perguntado"), também assina a
função aqui.
Maia vê desafios para as duas
atrizes de "O Banho", Gisele
Arantes e Heloisa Maria. A começar pela sofisticação aparente do
texto, um dado novo numa dramaturgia circunscrita normalmente aos personagens das classes menos favorecidas (vide "Babilônia", espécie de crônica anunciada da tragédia dos moradores
de rua no centro paulistano).
A relação da patroa Sofia (Arantes) e da empregada Benedita
(Maria) pode sugerir, num primeiro momento, um enésimo recorte sobre o universo feminino,
reforçado pelo programa da peça,
que estampa o dorso nu de uma
das atrizes em meio a rosas.
"Uma armadilha", diz Maia, 52.
Ele toma cuidado em não expor a
trama no jornal e tampouco para
o espectador, que deve notar outras camadas da história, ainda
que uma banheira em cena possa
seduzi-lo de outra forma.
"O texto reflete uma série de assuntos que não sai de moda, num
país que não tem uma transformação social, no qual as pessoas
são manipuladas conforme o jogo
de classes", diz Maia.
"Convidamos o público para
um banho. Não um banho que
apenas reitere o hábito cotidiano
da higiene pessoal que, inconscientemente, repetimos a vida toda, mas um banho que nos revele
as diferentes "personas" que grudam em nossa pele durante a nossa existência", deixa a pista um
trecho do convite da peça.
Através dessas duas mulheres, a
patroa e a empregada, confundem-se as fantasia de classes, a inversão do público e do privado
que, segundo o autor, atinge até o
atual panorama político do país.
"O Banho", diz Maia, tangencia
essas questões pelo ângulo de Sofia e Benedita na tentativa de extrair reflexão. "Um teatro para suportar o teatro da vida."
A estréia coincide com o lançamento do sexto número do "Caderno do Folias" (73 págs., R$ 10),
publicação do grupo que traz o
texto de "O Banho", além de artigos do cenógrafo Ulisses Cohn e
da professora de teoria literária da
USP Iná Camargo Costa, entre
outros.
(VS)
O BANHO. Texto e direção: Reinaldo
Maia. Cenografia: Ulisses Cohn.
Figurinos: Adriana Chung. Com: Gisele
Arantes e Heloisa Maria. Onde: Galpão do
Folias (r. Ana Cintra, 213, tel. 3361-2223).
Quando: estréia hoje, às 20h; qui. e sex.,
às 20h; sáb., às 21h; e dom., às 19h.
Quanto: R$ 20. Até 30/10.
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