São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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DANÇA

Coreografia do belga Frédéric Flamand e da arquiteta iraquiana Zaha Hadid subverte espaço do palco sem sair dele

Arquitetura define cena em "Metapolis"

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Eles não só desejam subverter o espaço do palco italiano como fazem isso sem precisar sair dele. A tradicional caixa-preta em que tantas vezes assistimos a espetáculos pode sim ser expandida, minimizada e esgarçada em seus mais diferentes ângulos.
"Metapolis", espetáculo da companhia de dança contemporânea Charleroi Danses - Plan K, é a prova de que se pode brincar com a profundidade e a dimensão de um espaço já delimitado.
Dirigida e fundada pelo belga Frédéric Flamand, o grupo apresenta de amanhã a domingo, no Teatro Alfa, em São Paulo, criação de 2000 em parceria com a arquiteta iraquiana Zaha Hadid.
Com recursos cênicos relativamente simples, como o uso de sombras e projeções, Flamand multiplica bailarinos e os faz "dançar e vestir feixes de luz".
Em determinada cena, um movimentado túnel repleto de carros é o espaço em que a bailarina dança. Merece explicação: deitada sobre um pano estendido no chão, sua imagem é projetada no fundo do palco sob a imagem de carros em movimento. Daí se brinca com os passos e a imaginação, como quando ela consegue "fechar" a entrada desse mesmo túnel como quem junta um grande lençol.
Em "Metapolis", a cena é construída com base em uma cidade utópica. Nela, há jogos que contrastam indivíduo e multidão, ordem e caos, fluidez e ruptura.
Flamand é o tipo de coreógrafo que estimula o diálogo entre as artes. Nada ali é só dança. Artes plásticas, teatro, música e intervenções audiovisuais colaboram com a hibridez de suas peças.
"Vivemos no século 21, onde, algumas vezes, a imagem é mais importante do que a realidade", disse o coreógrafo em entrevista à Folha na semana passada. Flamand contou também que chamou Hadid porque a arquiteta tem o movimento como ponto de partida de suas obras. Para ele, as três pontes que são deslocadas em cena são também metáforas dos diferentes contatos do mundo.
Nascido em Bruxelas em 1946, seis anos após a criação do Plan K (1973), Flamand criou o La Raffinerie, centro de pesquisas. Em 1991 foi nomeado diretor artístico do Ballet Royal de Wallonie, que unido a seu antigo grupo, deu origem ao Charleroi Danses - Plan K.
"Metapolis" mostra como malabarismos cênicos podem fazer uma dança mais dinâmica.


METAPOLIS. Espetáculo de dança com intervenções arquitetônicas de Zaha Hadid. Quando: sexta e sábado, às 21h, e domingo às 18h. Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000). Quanto: de R$ 30 a R$ 80.


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