São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2010 |
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CRÍTICA DRAMA Boa narrativa garante a qualidade de "Pororoca" Texto de estreia de Zen Salles tem ação tecida em aldeia maranhense LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA O faz de conta instaurando o teatro. "Pororoca", texto de estreia do autor maranhense Zen Salles, resgata o princípio de que um bom espetáculo começa com uma história bem contada. Fruto de um projeto internacional de incentivo a novos dramaturgos, a peça corresponde às expectativas dos especialistas ingleses que a supervisionaram. Apresenta uma trama bem tecida, sem fios soltos, e que é profundamente tributária das raízes culturais e das memórias de infância de seu criador. Situado numa pequena aldeia pesqueira no rio Mearim, o único do Maranhão onde acontece a pororoca -uma grande onda que corre contra o curso da correnteza- o arco de ação costura as vidas dos moradores daquela comunidade. Mais do que uma descrição, a fábula faz um inventário da condição feminina naquelas circunstâncias geográficas e sociais, bem como um resgate de algumas de suas lendas dominantes. Essas definições do dramaturgo são contempladas plenamente na encenação de Sérgio Ferrara, experiente na alternativa de alcançar a eficácia narrativa com um mínimo de recursos. Verdade que a produção tem detalhes luxuosos menos relevantes, caros aos empreendimentos institucionais. Mas, no geral, a empatia gerada ao longo dos episódios que se concatenam se deve muito mais aos intérpretes e ao jogo estabelecido por eles no espaço exíguo da montagem, do que à cenografia e aos figurinos. No palco, os destaques são as atrizes. Juçara Morais como a "veia Jacy", entidade que protege o rio e interage como oráculo dos demais personagens, e Paula Sassi como a menina moleca, cujo destino inexorável será a prostituição, sustentam com competência o fio principal da narrativa. Bia Morelli, Melissa Maranhão e Carol Leiderfarb também contribuem para as verossímeis relações tramadas entre os desejos pessoais dessas mulheres e as tradições arraigadas que as condicionam. Mesmo uma cena menos bem resolvida, como a que opõe um surfista do sul do país à quebradeira de coco local, justifica-se na estrutura dramática, contrastando as crenças e mitificações sobre a pororoca com sua absorção em outro contexto, mais superficial. De algum modo, como sugere a convenção dramática tradicional, o texto suplanta e submete a cena, definindo a qualidade da experiência teatral. Zen Salles estreou com o pé direito nessa opção de dramaturgia, apresentando o que, nela, de melhor um jovem dramaturgo pode oferecer. Sua experiência de vida e a boa técnica de narrar. POROROCA QUANDO qui. a sáb. às 20h30; dom. às 19h30; até 19/12 ONDE teatro do Sesi (av. Paulista, 1313, tel. 3146-7405) QUANTO grátis CLASSIFICAÇÃO 10 anos AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Longa explora humor finlandês e nonsense Próximo Texto: Artes Plásticas: Ernesto Neto e curador do MAM discutem instalação "Dengo" hoje Índice | Comunicar Erros |
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