Lucas Bambozzi projeta quartos em cubo branco

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando terminou seu casamento, Lucas Bambozzi saiu à procura de um novo apartamento. Passou a filmar salas e quartos vazios sempre que os corretores saíam de cena.
Na individual que faz agora na galeria Luciana Brito, montou uma réplica de apartamento, com sala, quarto, corredores e cozinha brancos. Sobre as paredes, projeta as imagens feitas nos espaços desabitados, largados entre um inquilino e outro.
Essa sua é uma casa cambiante, de ambientes que se transformam diante dos habitantes temporários da galeria de arte. Um papel de parede vira muro de tijolos à vista, uma cortina se dissolve e revela a crueza da paisagem urbana.
"Não tem nenhuma história sendo contada", diz o artista. "É o percurso de cada parede, cada uma com seus vestígios."
Bambozzi quer transformar cada espaço anônimo em reflexo de um estado subjetivo. Flagra o intervalo entre ocupações, o cômodo vazio num momento pouco depois ou pouco antes de receber um novo ocupante, que dará novos contornos e memórias àquele lugar.
De certa forma, instaura um fluxo alternativo da história.
Busca o espaço da costura, os pontos cravados entre um e outro bloco de tempo como se fossem volumes físicos. Cada cômodo vira fragmento narrativo dentro de uma série -uma ode melancólica à natureza escorregadia da metrópole. (SM)