São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 2002

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FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS É TUDO VERDADE

"O EVANGELHO..."

Evento exibe história do ator e diretor em duas sessões

Jece Valadão vive crônica de um cafajeste arrependido

Divulgação
Valadão (dir.), que tem história contada em documentário, em "Boca de Ouro" (62) com Odete Lara, de Nelson Pereira dos Santos


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O cafajeste arrependido é o tema do documentário "O Evangelho Segundo Jece Valadão", vídeo de Joel Pizzini exibido hoje no festival É Tudo Verdade.
Feito para o Canal Brasil, "O Evangelho" busca um paralelo entre as calhordices de Valadão na vida real com seus papéis em filmes desde os anos 50 e seu momento atual de pastor evangélico.
Assim, Valadão conta como seus personagens de malandros em fitas como "Rio 40 Graus" (56) e "Rio Zona Norte (58), ambos de Nelson Pereira dos Santos, não chegavam aos pés de suas cafajestadas fora das telas. "Eu só queria saber de mulher, dinheiro e uísque", lembra o hoje missionário.
Ator e diretor em 106 filmes, entre 1951 e 1996, Valadão ainda produziu clássicos como "Os Cafajestes" (1962) e "Navalha na Carne" (1970).
Valadão lembra suas brigas com o diretor Ruy Guerra, de "Os Cafajestes", a repeito da cena em Norma Bengell nua é rodeada por um carro. "Perguntei se ele não ia cortar a cena, que estava muito grande. O Ruy disse que não ia. Então cortei eu mesmo, dois terços da cena. Ainda ficou grande. Norma Bengell nua é bom. Mas coloca ela do seu lado o dia inteiro, você enjôa. Ainda mais à milanesa, cheia de areia."
Mas Valadão é elegante para reconhecer o trabalho do outro: "A linguagem é moderna e criativa. Mérito exclusivo dele."
Em certo momento, Pizzini pede para Valadão ler seus "Dez Mandamentos do Cafajeste", dos quais o primeiro é: "Bater na mulher certa na hora certa". "É muita calhordice", reconhece hoje. "Eu devo ter feito muito mal com minha filosofia furada. Isso causava impacto em outros homens, que reproduziam isso em casa."
Valadão fala ainda das mulheres que teve ou não teve: "Broxei com a Norma". Fala de seus grandes amores, como Vera Gimenez, mãe da apresentadora Luciana Gimenez, por quem largou tudo e com quem viveu treze anos.
"Jesus pegou na marra o devasso, o depravado", diz Valadão, que ora diariamente para perder todos os resquícios de machismo que possa ainda carregar.
Ao que parece, tem dado certo, já que ele diz ter se esquecido de todos seus diálogos, com exceção do primeiro, uma ingênua chanchada de 1951 com Oscarito. E olhe que esse homem já disse coisas como: "Uma de vocês três vai ganhar esse colar de ouro. Aquela que tiver os peitinhos mais bonitos vai ganhar esse colar".


O Evangelho Segundo Jece Valadão     
Direção: Joel Pizzini
Quando: Hoje, às 16h e às 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4, Colméia, tel. 3091-3540)
Quanto: entrada franca

Veja a programação na Folha Online (www.folha.com.br/ilustrada)




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