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"GALERIA METRÓPOLE"
Espetáculo reivindica respeito e apoio a sonhos e desejos
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Galeria" Metrópole é peça com uma causa: é essa
sua força e sua fraqueza. Terceira
peça a integrar o projeto da Cia.
Casa da Comédia "Painel de Histórias Não Oficiais de São Paulo",
endossado oficialmente pela Lei
do Fomento, busca resgatar com
orgulho a memória de um ponto
de referência gay da cidade.
À medida que a causa gay vem
sendo assimilada com crescente
naturalidade, é interessante constatar como as "gays plays", subgênero que também se instituiu
com o movimento, começam a se
diversificar.
Ao lado da idéia de transgressão, de desafio à moral estabelecida pela opção sexual majoritária,
que pode atingir alto vôo poético
nos textos de Newton Moreno,
por exemplo; e do homossexualismo como apenas um detalhe
em uma história de amor para todos os públicos, como em "Norma", de Tônio Carvalho, Mario
Viana aborda a questão por um
viés importante e inovador: o direito do gay enquanto cidadão.
Na trama, Afonso, o tio sexagenário há muitos anos expulso da
família por sua opção gay, tem
um encontro com sua sobrinha
Lúcia, que acaba de ser expulsa
pela mesma razão e que quer lhe
apresentar sua namorada.
A peça consegue romper o maniqueísmo gays oprimidos versus
heterossexuais opressores em
muitos momentos. Temperando
o tema principal, há o choque entre gerações: o gay sexagenário
acha vulgar se assumir; revela
igualmente um preconceito contra o homossexualismo feminino,
ilustrando o fato incômodo de
que pertencer a uma minoria não
garante a solidariedade a outras.
A trama, no entanto, cedo demais ganha um foco único: Lúcia
convida seu tio para a Parada Gay,
este reluta, e nesse conflito se perde toda a hora do almoço. A unidade de tempo e espaço é quebrada por flashbacks, mas também
por dois fantasmas, em realismo
fantástico: Nenzinho, o companheiro de vida toda, e Renato, o
grande amor de sua vida.
A insistência nos mesmos efeitos acaba condenando o diretor
Paulo Capovilla a uma repetição
de marcas: Nenzinho sai e volta
toda vez que é mencionado, Lúcia
se levanta para argumentos inflamados, para voltar ao banco e colher uma confidência do tio, e luz
e cenário podem apenas correr
atrás para dar conta dos recortes.
Rubens de Falco empresta todo
seu carisma e técnica para tornar
Afonso tocante em suas contradições. Rosaly Papadopol, que faz
Lúcia, e sobretudo Priscilla Carvalho, sua namorada, sucumbem
no entanto ao tom unívoco, na difícil tarefa de ser porta-voz do autor. Fernando Neves, no contraponto cômico, cede muitas vezes
a um caricato contraproducente à
causa do espetáculo.
A peça estreou às vésperas da
Parada Gay e chegou, na primeira
semana, a fazer sessões extras.
Tendo passado o evento, com o
enorme sucesso que se sabe, pode
se ter a impressão que é um panfleto bem distribuído, que cumpriu sua função. No entanto, sua
causa é maior. A reivindicação de
que a cidade respeite e endosse os
sonhos e desejos de cada indivíduo diz respeito a todos.
Galeria Metrópole
Direção: Paulo Capovilla
Com: Rubens de Falco, Rosaly
Papadopol, Priscilla Carvalho
Onde: teatro dos Arcos (r. Jandaia, 218,
tel. 3101-7802)
Quando: de qui. a sáb., às 21h; dom., às
20h; até 25 de julho
Quanto: R$ 10
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